Dois fatos que tornaram a neozelandesa Eleanor Catton famosa no mundo literário são justamente os que mais a incomodam hoje: no ano passado, ela se tornou a autora mais jovem (28 anos) a ganhar o Man Booker Prize, o mais prestigioso prêmio da comunidade inglesa, e com o livro mais longo (848 páginas), Os Luminares, lançado agora no Brasil pela Biblioteca Azul, da editora Globo. “Sempre espero por alguma pergunta a esse respeito”, diverte-se ela, que tem um encontro com leitores nesta segunda-feira, 4, às 19h30, na Livraria da Vila, na Vila Madalena.
Os Luminares se apoia no estilo vitoriano para narrar os mistérios envolvidos na morte de um homem durante uma corrida do ouro acontecida na Nova Zelândia do século 19. O romance tem uma estrutura inspirada na astrologia o que, segundo Eleanor, não é aleatório. “Para mim, a astrologia não é meramente um indicativo do que fazer a cada dia, mas um repositório de pensamento e psicologia”, comentou a autora, que conversou com o Estado na tarde de sábado, em Paraty, depois de descobrir o sabor da gastronomia brasileira. “Vejo como um sistema que dê significado aos atos dos homens. Por isso, a conjunção de dois planetas não influencia apenas as marés, mas também em nossas atitudes.”
Eleanor se apoiou também em um pilar da literatura mundial como ponto de partida: Os Irmãos Karamazov, de Dostoievski. “Esse foi o grande livro de mistério do século 19. A narrativa é extremamente engenhosa, com uma série de personagens sendo apresentados em uma trama que capta atenção pelo suspense”, conta a escritora. “Com outro clássico, Moby Dick, de Herman Melville, aprendi a ter uma bravura literária que não deixa se intimidar por qualquer limite da escrita.”
Eleanor estreou na literatura com The Rehearsal (O Ensaio), em 2008, e, embora essa obra se aproxime mais de sua realidade (a trama se passa na escola secundária, onde um professor se relaciona com um aluna), ela garante que Os Luminares é uma criação mais pessoal. “Isso porque foi um romance de provação pessoal”, justifica. “Primeiro, ao lidar com meus limites e a covardia que me impedia de seguir adiante. Foi uma luta particular e a primeira vitória, acredito, surgiu quando consegui criar uma narrativa em terceira pessoa para contar uma história de homens no século retrasado. Foi um duplo desafio: falar com propriedade sobre cidadãos de um outro tempo.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.