A técnica de Kimi Nii vem da tradição milenar do Oriente, mas os traços precisos são de influência do modernismo brasileiro, principalmente do construtivismo. A artista nipo-brasileira não faz somente uma ligação entre duas culturas. Ela mostra, pela cerâmica, que a arte pode ser tanto utilitária quanto contemplativa. E esta história é contada por algumas de suas obras mais famosas na exposição Nas Nuvens, inaugurada neste sábado, 02, na Caixa Cultural.
De nacionalidade japonesa, Kimi Nii se mudou para o Brasil aos nove anos, em 1957. Começou seu trabalho no design gráfico, quando se formou em Desenho Industrial. Sua carreira com a cerâmica, no entanto, só nasce no final da década de 1970, em uma feirinha na Praça da República, quando ela fica fascinada com as obras de Massayuki Sato, com quem aprende a técnica manual de molde da argila.
De lá para cá, a ceramista ganhou nome e espaço tanto no Brasil quanto no Japão – com mostras no Plaza Gallery (1999) e no Espaço Manabu Mabe (2001), em Tóquio. Suas esculturas também viajaram por diferentes influências estéticas e inspirações.
Da cronologia das suas esculturas, aparecem duas facetas. “Eu sempre me identifiquei muito com a arte concreta, mas no meio da minha carreira, eu comecei a olhar mais para plantas e flores tropicais”, explica a artista. A partir daí, surgiram suas experimentações mais orgânicas, como a série Donguris com peças que remetem a avelãs estilizadas.
Fazendo diálogos com diferentes vanguardas estéticas, Kimi não se restringiu. “Seja construtiva ou orgânica, a obra dela tem conexões com o modernismo brasileiro, como com os trabalhos de Amilcar de Castro e Sérgio Camargo”, define o curador da exposição Pieter Tjabbes.
Em seus últimos trabalhos, que são um dos destaques da mostra na capital paulista, a ceramista se aprofunda no estudo das forças naturais. A observação da maneira como a areia cria figuras piramidais pela simples força gravitacional inspirou a série Ilhas, de 2014. Na série Nuvens, também deste ano, a aglomeração de tufos arredondados que, dispostas com as ilhas, forma um retrato geométrico da natureza.
Na Caixa Cultural, o lado mais geométrico e concreto de Kimi também está em destaque. Nas esculturas – que serão também expostas no Centro Cultural Correios, no Rio, em dezembro -, é possível ver diferentes características de sua arte, como a relação entre o interior e o exterior em perspectivas. Nas formas simples, ela trabalha encaixes e sobreposições, como se as obras possuíssem camadas. “Este trabalho dela é uma discussão da cerâmica como escultura. São objetos esculturais, que se distanciam do utilitário”, explica Tjabbes.
Apesar disso, Kimi também empregou a mesma sofisticação às peças de suas linhas utilitárias, em vasos e conjuntos de chá, por exemplo. Dos fornos quentes, ela mantém a tradição do artesanato com sofisticação de acabamento e concepção. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.