Jason Pierce, ou Spaceman, o líder da banda britânica Spiritualized, foi pioneiro em injetar certa dose de lirismo meditativo no pop com Lazer Guided Melodies (1992), um disco independente tão cultuado quanto suas estranhas e lisérgicas suítes que já estão completando 22 anos.
De lá para cá, o Homem do Espaço virou uma espécie de artesão dos belos ruídos, de um certo transe sonoro, hipnótico. Um ramo da música que tem quatro ou cinco gênios contemporâneos, entre eles o músico Kevin Parker (do Tame Impala) e os islandeses do Sigúr Ros. Esse background cult do Spiritualized desembarca nesta quinta-feira, 28, no evento Popload Gig, no Audio Club, em São Paulo (Av. Francisco Matarazzo, 694).
O disco que projetou mundialmente o Spiritualized foi Ladies and Gentlemen We are Floating in Space (1997), que integrou a trilha sonora do filme Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, de Michel Gondry (Oscar de melhor roteiro original).
“Muitas músicas que eu compus de fato viraram uma espécie de standards, especialmente as mais antigas, mas o que vou mostrar aí é um outro projeto. Estarei acompanhado de um quarteto de cordas, uma coisa acústica, diferente”, anunciou Pierce, falando por telefone ao jornal O Estado de S.Paulo. O show, batizado de Spiritualized Acoustic Mainlines, inclui, além do cantor, um tecladista (que também toca gaita), um coro feminino. O clima é de recital, com 10 músicos no palco, metade vestida de branco e a outra metade de preto.
“Eu persigo uma noção de música que seja intangível, que tenha uma conexão com o sagrado. Em geral, associam com o gospel, mas há um leque muito grande de coisas que me influenciam, de Iggy Pop e Stooges e Scientists até o pop mais clássico, de Beatles e Beach Boys”, diz Pierce.
Além de problemas com drogas, amplamente explorados pela imprensa especializada, Pierce teve uma enfermidade no fígado recentemente, durante a feitura do álbum Sweet Heart Sweet Light (2012), e está ainda se recuperando de um tratamento pesado.
Ele assume que sua música tem um grande débito para com uma de suas maiores influências, Lou Reed. Mas não na sonoridade, ressalta. “Acho que é uma influência mais comportamental, na forma de Lou fazer música como quem faz orações, e se relacionar com todo o espectro artístico, de não permanecer enclausurado em uma única imagem ou personagem”, considera.
Pierce é um notável criador de música com potencial “neurológico” (como Moby, é um grande fã de Oliver Sachs). E também música com outros fins – ele aceitou um trabalho de US$ 1,5 mil para compor uma música para The Space Project, a uma compilação de canções que deveria ser feita usando provas de áudio coletadas pelas naves espaciais Voyager I e Voyager II. O resultado foi a bela faixa Always Together With You, que ele compôs em poucas horas em seu laptop.
O repertório do show desta noite em São Paulo deverá incluir, entre outras, os hits Walkin With Jesus (do projeto Spacemen 3), Stop Your Crying, Mama Said, Broken Heart, Baby Im Just a Fool e uma cover de Daniel Johnston, True Love Will Find You in the End. Coisa para sensíveis. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.