A bela cantora neozelandesa Kimbra veio ao Rock in Rio no ano passado como um azarão, sem ter ainda um background que a sustentasse no palco (tinha se destacado em 2013 com uma faixa em parceria com Gotye, Somebody that I used to Know). Aos 23 anos, possuía poucos hits (entre eles Cameo Lovers e a percussiva Settle Down, ultra Lily Allen, ambas do disco de estreia, Vows, de 2011). No Rio, contou com a ajuda do Olodum e um tributo a Michael Jackson em They Dont Care About Us para passar sem ferimentos pelo seu teste de fogo no Brasil.
Agora, ela está de volta com um disco novo, The Golden Echo, lançado no mês passado pela Warner Music Brasil. É um disco mais eclético, que centra numa certa nostalgia do hip hop dos anos 1990, mas também passa pelo R&B mais popular e vai até um som mais Motown, mais soul, chegando a faixas mais experimentais, como Waltz me to the Grave (que a revista Rolling Stone definiu como “Major Tom tromba com Ella Fitzgerald”).
“A parte visual de um show é importante, mas mais importante é dar boa música para a plateia. De outra forma, não faz sentido, tem de ser uma experiência tanto sonora quanto visual”, disse Kimbra, por telefone, ao Estado. “O Brasil certamente é um dos lugares para onde eu gostaria de voltar, porque fui recebida por pessoas muito gentis e o show no Rock in Rio foi muito bacana”, afirmou.
Kimbra parece à procura de um sabor sonoro meio perdido. “Tentei providenciar um senso maior de experimentação, assim como um mergulho no soul e no R&B”, ela conta. Até um sabor funk tem no álbum, na canção Madhouse. “O que eu gosto no funk é o ritmo. Quando toquei no Rock in Rio, aprendi que há um outro tipo de funk aí, mas, para mim, trata-se mais de um tempero, um balanço.”
Para carimbar seu novo ecletismo, a cantora foi em busca de um produtor pop, Rich Costey, conhecido pelo seu trabalho com as bandas Muse e Interpol. “Ele trouxe algo diferente, soube como explorar as minhas ideias. Me ajudou a colocar foco, tem a qualidade de ter uma mente aberta. Produzimos juntos. Ele deu um certo peso à produção”, ponderou Kimbra.
Ela também tem convidados em algumas faixas. Ambiciosa, foi atrás do lendário produtor Van Dyke Parks para emoldurar a canção As You Are. Outros notáveis são Dave Longstreth e Flying Lotus, além de um australiano, Daniel Johns, da banda Silverchair, que fez muito sucesso nos anos 1990 e hoje anda meio sumidão. “Daniel tem uma grande concentração na área de composição, tenho amizade com ele. Acho que fui influenciada pelo Silverchair como cantora, por esse jeito de mesclar um lado mais melódico e outro mais pesado, de passar uma mensagem por meio da letra”, diz.
Ela compôs as músicas do novo disco em uma fazenda de Silver Lake, nas redondezas de Los Angeles, um lugar bucólico De uma maneira geral, sua ousadia em produção e composição não tem rendido bons frutos. Já a acusaram até de uma espécie de “reginaspektorização” de sua música, em vez de enveredar de vez pelo pop que lhe é mais familiar. Mas, com The Golden Echo, é preciso que se diga que ela teve topete, no mínimo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.