Variedades

Temas da família dominam competição

E o 16.º Festival do Rio estendeu nessa terça-feira, 7, seu tapete vermelho para Stephen Daldry. O diretor inglês de filmes como Billy Elliot e O Leitor fez o encerramento do evento carioca com a adaptação do livro de Andy Mulligan, Trash. No Brasil, o filme ganhou um subtítulo – A Esperança Vem do Lixo. Daldry, o roteirista Richard Curtis e parte do elenco brasileiro – Wagner Moura, Selton Mello, André Ramiro e José Dumont – participaram de uma concorrida coletiva na manhã dessa terça. Curtis explicou: “A gente pensou que estava fazendo um thriller sobre a caçada a uma carteira perdida no lixo, mas descobriu que fez um filme sobre esperança.”

Um trio de garotos do lixão, contra todas as evidências, derrota policiais e políticos corruptos. O filme é uma fábula – “É claro que a gente espera que as pessoas se divirtam, se emocionem, mas será muito bonito se Trash mudar a vida de alguém.” E Curtis aproveitou para ampliar seu recado. “Vivemos num mundo que teria condições de erradicar a pobreza absoluta. O que falta é vontade política.” Foi aplaudido pelos companheiros de mesa. Após, a gala de encerramento, o Festival do Rio faz nesta quarta-feira, hoje a festa – e outorga os troféus Redentor para os melhores dessa 16.ª edição. Melhor filme, diretor, ator, atriz… E o Redentor vai para – quem? Há expectativa pelas escolhas do júri presidido pelo cineasta Karin Ainouz. Há expectativa pelos demais júris.

Pela primeira vez, o Rio outorga o troféu Félix para o melhor filme de temática LGBT. Integram o júri Wielland Speck, que já está por trás do Teddy Bear, o Urso gay do Festival de Berlim, e a cineasta Malu de Martino. O júri da Fipresci, Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica – integrado pelo jornalista do jornal O Estado de S.Paulo, Luiz Zanin Oricchio -, vai escolher o melhor filme latino. Todos esses prêmios despertam atenção, interesse, mas a menina dos olhos do Festival do Rio é a Première Brasil. Oito ficções estão na disputa pelos troféus da categoria. Mais importante do que apostar no melhor – Casa Grande, de Fellipe Barbosa – é tentar avaliar o que essa Première Brasil propôs, ou concretizou.

São filmes muito diversos entre si – um estudo sobre o descenso social da alta classe média e a descoberta da rua por um garoto criado no mundo fechado dos condomínios (Casa Grande); outro estudo, sobre uma família desestruturada e a busca de uma identidade (afetiva, sexual) por parte de um garoto da Mooca (Ausência, de Chico Teixeira); um documentário sobre personagens fictícios (Love Film Festival, de Manuela Dias); outra ficção, em formato de making of (O Fim de Uma Era, de Bruno Safadi e Ricardo Pretti); duas incursões pelo universo da política (O Fim e os Meios, de Murilo Salles; e Prometo Um Dia Deixar Essa Cidade, de Daniel Aragão); os primórdios de Brasília e do golpe militar pelos olhos de um garoto (O Outro Lado do Paraíso, de André Ristum); uma ficção situada nos bastidores de um cinema decadente de Brasília (O Último Cine Drive-In, de Iberê Carvalho); um sofisticado exercício de investigação do espaço físico da arquitetura e do afetivo da memória (Obra, de Gregório Graziosi); e o reencontro poético de um casal de irmãos separados pelo zelo de uma mãe que teme o incesto (Sangue Azul, de Lírio Ferreira).

O Fim de Uma Era, como o menos narrativo dos filmes do coletivo Operação Sonia Silk, foi um objeto estranho na competição. Por seu perfil, deveria estar na boa companhia de Éder Santos (Deserto Azul) na mostra Novos Rumos. Nos demais filmes, e apesar das diferenças – de estilos – , houve uma insistente abordagem da crise da família. Houve até um pai herói, anônimo e massacrado pela ditadura (no filme de André Ristum, baseado no romance de Luiz Fernando Emediato), mas, na maioria dos casos, mesmo quando o foco estava na política (Murilo Salles e Daniel Aragão), a família era disfuncional. Obra e Ausência possuem grandes/belas qualidades, mas Casa Grande foi o filme que deu conta de tudo, dos
aspectos humanos, políticos e sociais, como da dimensão estética.

Apostas para a premiação de hoje

PREMIÈRE BRASIL
Casa Grande, de Fellipe Barbosa, é o principal concorrente em categorias como filme, direção e roteiro (Fellipe Barbosa), e atriz (a sensacional Clarissa Pinheiro, embora o júri possa deliberar que o papel dela, como doméstica, é de coadjuvante). Ausência, de Chico Teixeira, pode aspirar aos prêmios de interpretação e Obra, de Gregório Graziosi, aos técnicos – a fotografia, em PB, de André Brandão, é deslumbrante.

PRESENÇA LATINA
Guillermo Arriaga já havia advertido o repórter, dizendo-lhe que não perdesse Güeros, de Alonso Ruizpalacios, no Foco México. É o melhor latino no Rio, e se enquadra no perfil do prêmio da Fipresci, sendo, como é, como obra de diretor estreante. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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