Quando o parceiro Elton Medeiros fez 80 anos, Paulinho da Viola lhe deu o maior presente que poderia. Criou um samba e o levou como surpresa. Elton dava uma entrevista para o Instituto Moreira Salles com direito a plateia quando Paulinho foi chamado ao palco. “Cheguei escondido, ele não sabia que eu estava lá. Então, fui até ele e disse: “Esse aqui é um presente para você”.
Agora é Paulinho quem faz festa. São 50 anos de carreira que devem ser esticados até 2016, com direito a cantoria dentro de um trem na França, lançamento de um novo documentário, estreia de um portal e relançamentos de CDs. O mais próximo é uma apresentação que ele traz para São Paulo, dia 1º de novembro.
Mas o homem por trás de tantas badalações está cada vez mais recluso. Paulinho não tem planos nem pressa para fazer um novo disco e passa a maior parte de seus dias envolvido com outros prazeres além da música.
Ele recebeu o jornal O Estado de S.Paulo em sua casa de Itanhangá, no Rio, para quase três horas de conversa. Sobre sua pouca ansiedade em entrar em estúdio, disse ser este um traço de sua personalidade, algo que não deve mudar. E sobre novas e velhas gerações, refletiu: “Há pessoas que querem sempre recriar tudo, não querem mais saber daquilo que elas mesmo fizeram. E há outras que não são assim, que criam de uma maneira diferente. Eu nunca quis reinventar a música”.
O sambista explicou o que é que um disco de Elvis Presley e um livro chamado Arqueologia Mecânica faziam na mesa de sua sala. Contou sobre as inspirações relâmpago que podem assaltá-lo mesmo depois de meses sem nenhum contato com o violão e o que é que ele guarda na marcenaria que fica em um cômodo fora de sua casa. O samba ocupa um compartimento importante em sua vida, mas não é o único. E ouvi-lo falar em ritmo sincopado é o melhor caminho para entender o homem que tem o seu próprio tempo.