Do lado de fora, um enorme guindaste se prepara para um dos momentos mais delicados da obra: a instalação da enorme pérgula que vai cobrir o prédio; do lado de dentro, um tapume de madeira deixa entrever um auditório ainda todo de concreto, com um palco ao fundo – e, sobre ele, enormes estruturas metálicas preparam-se para ser içadas ao teto, onde darão suporte a uma série de placas de madeira. Assim, ainda povoada por centenas de operários, começa a tomar forma a Sala Minas Gerais, novo palco de concertos da capital mineira, que será inaugurado em fevereiro e, a partir do ano que vem, vai ser sede da temporada da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais.
Criada em 2007, a orquestra, em pouco tempo, passou a brigar pela posição de segundo grupo sinfônico mais importante do País e, até este ano, ensaiava e se apresentava no Palácio das Artes. A ideia de uma sala própria é antiga – mas começou a tomar forma há quase dois anos, com o lançamento, em março de 2013, da pedra fundamental do projeto, que ocupa uma área de 12 mil m² no bairro do Barro Preto (além da sala, de 8 mil m², o complexo cultural vai abrigar um restaurante, em um prédio dos anos 1920 restaurado, e a sede de Rede Minas).
A reportagem do jornal O Estado de S. Paulo teve acesso exclusivo às obras na semana passada. O projeto, orçado em R$ 140 milhões, tem assinatura da arquiteta Jô Vasconcellos e prevê, do lado dentro, toda a sede administrativa da filarmônica, além de salas de ensaio e espaços para arquivo e exposições. Do lado de fora, criou-se uma área de convivência. “Isso é uma resposta à demanda da região, que não tem centros culturais. E, claro, uma vez que consigamos atrair as pessoas para este espaço, será desafio da orquestra levá-las também para os concertos. Alguns estudos indicam que, por dia, passam por esta região 360 mil pessoas”, explica Jaqueline Ferreira, diretora de Comunicação da filarmônica. “A nossa percepção é de que ter uma sede própria vai nos permitir tentar novas formas de aproximação com o público.”
A nova sala também levará a novos desafios artísticos – que devem ser sentidos já a partir do próximo ano. De cara, vai permitir um aumento de mais de 100% no número de concertos – serão 57 ao todo, com duas séries de assinaturas, às quintas e sextas, e uma nova programação aos sábados. Nela, serão apresentadas, ao longo do ano, peças de Beethoven – as nove sinfonias e os cinco concertos para piano e orquestra, por exemplo. “A sala nos oferece a possibilidade de fazer algo que eu venho adiando, que é o aprimoramento técnico do conjunto. Conquistamos muito em pouco tempo. Mas há detalhes, aspectos da sonoridade, que você só consegue trabalhar de verdade quando pode ensaiar e tocar na mesma sala, com regularidade”, explica o maestro Fábio Mechetti, regente titular e diretor artístico da filarmônica. “O repertório clássico, do qual faz parte Beethoven, é ideal para esse trabalho mais técnico e também vamos testar o sábado como dia de concertos em Belo Horizonte.”
“Testar” será a palavra-chave no ano que vem. A escolha de repertório dos concertos de assinatura, por exemplo, mantém marcas dos anos anteriores, como solistas de peso (como Nelson Freire, Antonio Meneses, Arnaldo Cohen e Benedetto Lupo), maestros convidados ou estreias de autores brasileiros (serão cinco ao todo). Mas o repertório foi pensado de forma a testar a acústica da sala, projetada por José Augusto Nepomuceno, responsável pelo mesmo trabalho na Sala São Paulo e que recria em Minas a ideia das placas móveis que, no teto, se adaptam às necessidades de cada peça. “Temos que testar e afinar a sala e por isso pensamos, em conjunto com ele, em programar peças as mais diversificadas possíveis”, diz Mechetti. “Por isso, vamos fazer desde obras grandiosas, como a Sinfonia nº 2 de Mahler, até outras menores, com um outro tipo de sonoridade.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.