Variedades

Reality (Final) cria Big Brother de doentes terminais

A dramaturga Michelle Ferreira diz que, como aprendeu com Antunes Filho, no Centro de Pesquisa Teatral (CPT), todo personagem deve ter uma contradição. “Se não tem, não é ser humano”, diz. E a contradição parece habitá-la, já que foi observando uma paisagem bucólica, voltando do sítio de uma amiga, que Michelle teve o insight de escrever sobre um reality show de doentes terminais, tema de Reality (Final), segunda peça da Má Companhia Provoca, que estreia nesta quinta-feira, 6, no Sesc Pinheiros.

A inspiração vem de uma história real. A dramaturga ficou impressionada com os últimos anos de Jade Goody (1981-2009). Conhecida no Reino Unido, ela participou do Celebrity Big Brother em 2007, quando se tornou uma vilã racista que insultava uma participante indiana. No ano seguinte, foi à Índia participar de outro reality por lá, como uma forma de se redimir. Durante o programa, descobriu que tinha câncer. Quando se descobriu desenganada pelos médicos, pensou em uma maneira de juntar dinheiro para deixar herança aos filhos: transformou sua própria doença em um reality, oferecendo entrevistas a diversos veículos.

A história muda na ficção de Michelle. Eva Lo Brac (Maura Hayas) é uma atriz que fez sucesso na TV, mas, por seu comportamento fora do comum, foi esquecida. Falida e constantemente drogada, descobre que está com câncer e é convidada a participar do programa Reality Câncer. Após a morte de quase todos os integrantes do show, ela compete com uma jovem que tem leucemia, interpretada por Flávia Strongolli.

“O reality é só um pano de fundo para falar da morte, do final, do fim que escolhemos pra gente”, diz Michelle, que também pensa no câncer como uma metáfora da sociedade que está doente. “Gostamos do freak show, precisamos do outro em uma situação vexatória para nos sentirmos melhor.”

Escrito para ser encenado com o máximo de realismo possível, o texto foi modificado de modo que coubesse na linguagem da Má Companhia. Na direção de Ramiro Silveira, o espetáculo ganha um tom asséptico. Com chão e paredes brancas, o cenário ganha sete cadeiras da mesma cor, que fazem as vezes de diversos ambientes sem ser necessário o uso de outros objetos. “Não me interessa muito a teatralidade, gosto de colocar a peça em cima do jogo dos atores”, diz Silveira. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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