A editora Peirópolis levou um susto este ano ao inscrever quatro adaptações de clássicos literários em HQ no Prêmio Jabuti. Foram todas desclassificadas de cara por não serem consideradas obras inéditas – requisito da premiação. Renata Farhat Borges, que além de editora da casa é pesquisadora de quadrinhos, esbravejou, argumentou, e o conselho curador voltou atrás. Não se trata de um gênero novo que justifique a confusão.
O leitor brasileiro teve seu primeiro contato com clássicos em HQ no século 20, em bancas, porque Adolfo Aizen, da Editora Brasil América, importou a pioneira coleção Classics Illustrated e publicou quadrinizações de obras brasileiras, lembra Renata. José de Alencar, Bernardo Guimarães, Manuel Antônio de Almeida e Camilo Castelo Branco estavam entre os autores.
A lista não difere muito do que encontramos hoje na livrarias. Ou melhor, nas escolas. A nova fase de clássicos em quadrinhos foi iniciada em 2006, quando os editais de compras de livros para escolas incluíram esse tipo de livro. “O Governo em suas diferentes instâncias entende as adaptações literárias como instrumentos interessantes de formação do leitor literário e porta de entrada para a leitura de grandes obras da literatura universal. Além disso, vem cada vez mais valorizando esse tipo de publicação por seu resultado estético”, diz a editora que tem, em catálogo, 12 adaptações feitas por artistas e roteiristas brasileiros, como A Mão e a Luva (Machado de Assis), por Alex Genaro e Alex Mir, e A Morte de Ivan Ilitch (Tolstoi), feita por Caeto.
E se o Governo compra, as editoras fazem. Ainda mais se o livro estiver em domínio público – caso dos clássicos. Uma exceção: Fábio Moon e Gabriel Bá estão adaptando Dois Irmãos, romance lançado por Milton Hatoum em de 2000, para a Companhia das Letras. E a L&PM editou recentemente A Invenção de Morel, de Bioy Casares, em HQ.
A editora gaúcha, aliás, que publica o gênero desde os anos 1980, investe agora também em adaptações para o mangá. O Grande Gatsby, de Scott Fitzgerald, é um exemplo. Não desistiu, porém, de editar a coleção Grandes Clássicos da Literatura em Quadrinhos, que já conta com cerca de 10 títulos. Mesmo depois do anúncio de que a Del Prado começa a vender a mesma coleção, composta de 26 volumes (nenhum de autor brasileiro) em bancas de todo o país – a volta às origens. Tanto que ela cedeu os direitos de sua tradução.