Variedades

Concertos de Philippe Jaroussky são dedicados a Vivaldi

É uma voz aguda, que se assemelha à de uma mulher – ou, dependendo do caso, a de um jovem menino cantor. A diferença é que ela é emitida pelas cordas vocais de um homem adulto, o contratenor, registro vocal que, nos últimos anos, ganhou enorme popularidade pela atuação de uma geração particularmente rica de intérpretes. E, nesse contexto, destaca-se o francês Philippe Jaroussky que, aos 36 anos, é um dos mais importantes cantores líricos da atualidade – e faz nesta terça-feira, 11, e quinta, 13, na Sala São Paulo, dois concertos acompanhados do Ensemble Artaserse, do qual é criador.

Jaroussky vai interpretar, encerrando a temporada da Sociedade de Cultura Artística, um repertório inteiramente dedicado a Vivaldi, que está também em seu mais recente disco, que a Warner Classics lança este mês, Pietà. No encarte do álbum, ele escreve que sentiu uma necessidade “física e vocal” de retornar ao compositor. “Eu estava com 21 anos quando minha carreira de fato começou”, ele explica, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo. “E, naquele momento, Vivaldi foi um autor muito importante para mim. Ele permitia o equilíbrio entre a minha voz e o som orquestral. Com o tempo, porém, outros autores foram aparecendo e nos afastamos. Até que senti que era hora de recuperar nossa relação.”

Jaroussky nasceu em Paris e, aos 11 anos, começou a estudar violino – apesar, ele lembra, de ouvir de muitas pessoas que, para ter uma carreira, precisaria ter se dedicado ao instrumento desde muito mais cedo. Aos 18 anos, porém, ele assistiu a um concerto de música barroca com a participação do cantor Fabrice di Falco. O impacto provocado pela deslumbrante voz cristalina de soprano foi enorme. E ele soube, então, o que queria fazer, com uma vantagem: para um cantor, 18 anos ainda era bastante cedo. Após ter aulas com o professor de Di Falco, ele passou a ser orientado pelo contratenor Gerard Lesne e, após a primeira aparição pública, cantando um oratório de Scarlatti, já seria convidado a participar de uma série de concertos dedicada a Monteverdi.

Sua carreia seguiu, a partir de então, um ritmo vertiginoso. Ele logo trabalharia com William Christie, maestro especializado no repertório barroco, com quem gravaria alguns discos. E passaria a ser celebrado por colegas ilustres, como a meio-soprano italiana Cecilia Bartoli. “Quando o ouvi pela primeira vez, fiquei impressionada com sua musicalidade e sensibilidade. Há uma beleza no seu fraseado e uma delicadeza, ou mesmo fragilidade, em sua alma que toca o ouvinte profundamente”, disse ela em entrevista recente ao The New York Times.

Aos 24 anos, Jaroussky resolveu criar, ao lado de alguns colegas músicos, uma orquestra que pudesse acompanhá-lo em algumas de suas apresentações. Ele é bastante franco com relação ao que motivou a ideia. “Às vezes, você se sente pronto para cantar um repertório específico, e é um pouco frustrante ter que esperar um maestro convidá-lo para poder fazê-lo. E tem outra coisa. Em um rotina de trabalho que, muitas vezes, se limita a dois ou três ensaios, a chance que você tem de estabelecer de fato uma relação artística com um maestro e seus músicos é pequena. E a consequência disso é que nem sempre o resultado o deixa feliz. Mas não importa: você tem que subir no palco e cantar do mesmo jeito. É por isso que ter um grupo de músicos com quem você trabalha regularmente é especial.”

E isso, diz Jaroussky, é particularmente verdade no repertório barroco e na obra de Vivaldi. Assim, no momento em que ele e o Artaserse resolveram que era hora de refinar a sonoridade do conjunto, acabaram se voltando à produção do compositor – Jaroussky também rege, mas prefere dizer que ele e seus músicos cooperam na busca de uma interpretação. “Eu trabalhei com grandes maestros e eles me ensinaram muito. No caso de Vivaldi, o mais importante talvez seja o autocontrole. Canso de ver artistas tentando acrescentar algo às notas, buscar uma espécie de sofisticação forçada. Mas, para mim, basta de verdade olhar a partitura. E perceber como tudo o que o cantor faz está, de alguma forma, sugerido no que a orquestra toca. Perceber isso, participar desse diálogo, mais do que qualquer outra coisa, é o que me faz crescer muito como músico”, diz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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