Ao rodar o documentário Silenced – Georgi Markov e o Assassinato do Guarda-chuva, o cineasta Klaus Dexel parecia estar em filme policial de ficção. Em sua jornada para encontrar o assassino e descobrir o segredos por trás da morte do escritor búlgaro que dá nome ao longa – um dissidente do regime comunista morto pelo agentes do serviço de inteligência comunista em Londres, em 1978, o diretor ficou na mira da Scotland Yard, alto comando da polícia britânica.
“A Scotland Yard escreveu para meus companheiros de trabalho dizendo que queria todo o material do filme. Eles não queriam que ninguém toque nesse assunto. Antes de eu falar com assassino, já sabiam que havia uma movimentação. No final, queriam evitar tudo”, conta o cineasta alemão, que veio ao Brasil para conversar com o público do Festival Telas, após exibição do documentário, nesta quarta, 12, às 19 horas, no Centro Cultural São Paulo.
No longa, Dexel fica frente a frente com Francesco Gullino, cujo codinome era Picadilly, agente secreto suspeito de matar Georgi Markov com veneno colocado na ponta de guarda-chuva, que ele encontrou na Áustria. Para completar a missão, o diretor recorreu a pesquisadores de diferentes países. “Tive ajuda de especialistas em serviço secreto. Encontrei um na Alemanha e outros na Bulgária, que me deram informações. Um deles achou o assassino, que tinha passado por um interrogatório de 11 horas feito pela Scotland Yard, na Dinamarca. Depois, ele desapareceu, mas o encontramos e conversei com ele por uma hora e meia.”
Entretanto, durante o processo de produção, enfrentou mais uma intervenção da polícia britânica, cujo pedido de entrega do material havia sido ignorado por ele. “Como eu estava na Alemanha e eles na Grã Bretanha, não me importei. Mas eles fizeram um ataque diplomático, pediram à polícia federal alemã que viesse até mim. Quando eu estava de férias, na Grécia, dois policiais alemães foram ao meu escritório para buscar as coisas. Porém, como eu não estava, não pegaram. Eles tiveram de obedecer a lei”, contou ao jornal O Estado de S.Paulo.
A ideia do filme surgiu após ele rodar o documentário Résistance – Der Fall Wallenberg: Retter und Opfer, sobre Raoul Wallenberg (1912-1947), diplomata sueco que salvou dezenas de judeus húngaros do nazismo e foi morto pelos soviéticos . “Eles criaram esse veneno nos anos 1950. Provavelmente que Wallenberg foi morto com esse veneno. Anos depois, li em um jornal alemão sobre o caso do assassinato do guarda-chuva, em que o agente que o matou havia sido encontrado e que tudo vinha do mesmo laboratório da KGB”, relembra.
Segundo Klaus Dexel, o veneno usado contra Markov, que havia se tornado jornalista da BBC após fugir do leste europeu, foi criado em um laboratório da antiga KGB, agência de inteligência do regime comunista. Como os russos ainda mantém as informações protegidas, o cineasta não pode ir até lá. “Não filmei nada em Moscou. Porém, comprei um ex-agente da KGB imagens feitas lá dentro”, revela.
Para ajudar a divulgar o caso, o cineasta conseguiu que Silenced fosse exibido em cinemas da Hungria. Com 68 anos, ele garante não ter sentido medo da perseguição da Scotland Yard. “Eu não senti medo, mas minha mulher disse que preciso largar esses trabalhos, pois estou velho para isso.”