A maioridade no Brasil se faz aos 18, mas o Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade parece atingir sua maturidade este ano. Com uma programação que inclui cinema, teatro, música e dança com temática LGBT, além da primeira edição de uma competição nacional de longas e médias-metragens, o evento começa nesta quinta-feira, 12, a 22.ª edição e vai até dia 23. O filme de abertura, Algo a Romper, de Ester Martin Bergsmark, vencedor do Festival de Roterdã deste ano, será exibido hoje, às 20h30, no CCSP.
Até agora, a mostra nem sempre foi tão robusta. Em 1993, um dos diretores do evento, André Fischer, teve um grande problema ao aceitar o convite do cineasta Karim Aïnouz para levar um programa de curtas brasileiros ao Lesbian and Gay Experimental Film Festival, hoje MIX New York. O empecilho era básico: havia demanda, mas não existia oferta suficiente no País.
“Eu comecei a ligar para os meus amigos, pedindo que eles fizessem filmes”, lembra Fischer, entre risos. Conseguiu reunir apenas 8 curtas para levar aos EUA. Quando a programação completa do MIX foi trazida a São Paulo, no mesmo ano, nasceu o festival.
No início, só curtas eram exibidos, mas rapidamente a seleção se tornou maior. “No segundo ano, já começamos a fechar a produção no Brasil. No quinto, já éramos maior que Nova York”, completa Fischer.
A forte presença de filmes brasileiros dá o tom da programação deste ano, que, pela primeira vez, vai premiar o melhor longa ou média-metragem brasileiro com o prêmio Coelho de Ouro. “Vai ser o primeiro ano que nós temos quase 50% da programação formada por filmes do Brasil”, afirma João Federici, que também organiza o festival. “Era um evento de legenda. Hoje, a gente faz legenda em inglês para os convidados estrangeiros”, brinca Fischer.
Entre os filmes que terão de ser legendados em inglês está Favela Gay, documentário de Rodrigo Felha produzido pelo cineasta alagoano Cacá Diegues.
Nascido e criado na Cidade de Deus, uma das favelas mais famosas do Rio, Felha decidiu fazer o longa ao ver o gaymado da comunidade, um jogo de queimada em que só homossexuais competiam e emendava num baile funk. Foi então que teve a ideia de filmar um documentário só sobre pessoas LGBT que viviam nas várias favelas da cidade. “A captação de recursos foi difícil: você chega lá com um filme que tem favela e gay no nome. É um baque. Mas fiz o filme para mostrar que não existe diferença entre o gay da favela e o gay do asfalto”, conta ainda.
Gazelle – The Love Issue, por sua vez, aborda a figura de Paulo Araújo, um comissário de bordo brasileiro famoso na noite de Nova York por seu trabalho como transformista. Cesar Terranova, o diretor do longa, que faz sua estreia no festival, descobriu o personagem quando morava na Polinésia Francesa. Leitor ávido de revistas, tinha dificuldade de encontrar publicações lá. Acabou topando com Araújo numa revista virtual, e o filmou por quatro anos, entre as viagens que fazia. “No filme, eu tento, de alguma forma, importar valores um pouco mais avançados para essa comunidade. O Brasil ainda está muito atrasado. Essa marginalização é muito anos 1980”, explica.
Não é só de Brasil ou cinema que vive a programação do Mix Brasil, no entanto. Entre os destaques internacionais está Mommy, do jovem diretor canadense Xavier Dolan, que ganhou o Prêmio do Júri em Cannes este ano pelo trabalho. Na área de dança, o espetáculo Blood, criado para o Royal Opera House pelo brasileiro Jean Abreu, será encenado pela primeira vez no Brasil. Já a peça A Geladeira, do argentino Copi e com direção de Nelson Baskerville, faz sua estreia dentro da programação do festival. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.