Se Plínio Marcos soubesse que, mesmo 15 anos após sua morte, suas peças de teatro permaneceriam em cartaz, talvez não ficasse nada satisfeito. “Há muitas explicações para esse interesse das gerações novas”, diz Oswaldo Mendes, amigo do dramaturgo e autor de Bendito Maldito – Uma Biografia de Plínio Marcos (Editora Leya, 2009). “A que menos agradaria ao Plínio é a constatação de que a brutal realidade denunciada em suas peças continua inalterada.”
Para o também dramaturgo Leo Lama, filho de Plínio, a razão das remontagens é outra. “É mais do que a temática”, diz. “Barrela, por exemplo, que é uma peça sobre as relações em um presídio, pode ser considerada bem ingênua hoje.” Ele defende que existe uma força dramática na relação humana dos personagens, o que confere um caráter analógico aos textos, considerando que a humanidade enfrenta os mesmos problemas há tempos.
Seja qual for a razão, quem procurou por montagens do Plínio neste ano se deparou com a versão de Navalha na Carne, que inaugurou um novo espaço no Teatro Garagem, em São Paulo, em maio, Mundaréu no próprio Teatro Plínio Marcos, em Brasília, e até Munique teve, no início deste mês, a chance de ver Dois Perdidos numa Noite Suja. Também em São Paulo, a versão da Companhia Triptal para Abajur Lilás fica em cartaz no Viga Espaço Cênico, às quartas e quintas, até 27 de novembro.
As homenagens a Plínio Marcos de Barros não param por aí: o dia de hoje marca os 15 anos da morte do repórter do submundo. A data impulsionou a criação de eventos em São Paulo e uma programação de peso em Santos, terra em que o dramaturgo nasceu, em 1935, e viveu até 1960. Nesse ano, ele se mudou para a capital paulista, onde vendeu produtos contrabandeados até se deparar com a turma do Teatro de Arena (hoje chamado Teatro de Arena Eugênio Kusnet).
Também músico, Leo Lama apresenta, no sábado, 22, no Itaú Cultural, um recital em que ele reforça sua parceria com Plínio. “Ao longo dos anos, fui musicando poemas e letras de peças dele e as organizei em um roteiro, com a minha dramaturgia”, diz. O trabalho, que pode ganhar registro em CD, leva em conta excertos de montagens como Querô, Uma Reportagem Maldita, A Mancha Roxa, Balada de Um Palhaço e Madame Blavatsky, além do pouco conhecido livro de contos autobiográficos Prisioneiro de Uma Canção.
Filho do artista com a atriz Walderez de Barros, Leonardo Martins de Barros escreveu sua primeira peça, despretensiosamente, aos 21 anos. Chegou a jogar o texto de Dores de Amores no lixo, mas, recuperada pela mãe, a peça caiu nas mãos de Malu Mader e Taumaturgo Ferreira e ganhou montagens internacionais. “Eu nem pensava em ser dramaturgo”, garante. “Eu tinha uma banda na época, fiz o texto por acidente.” Leo não teve uma influência direta de Plínio na escolha da profissão, mas do ambiente doméstico, sempre rodeado pelo teatro. “A influência que tive de Plínio como dramaturgo foi a mesma que a minha geração teve. Assim como Nelson Rodrigues influenciou a geração dele, ele teve impacto na minha.”
Uma coincidência originou outra homenagem a Plínio. Criador e organizador da Balada Literária, Marcelino Freire teve a missão de escolher um nome para ser homenageado no evento. Pensou em alguém de teatro e logo o nome veio à mente.
“Descobri depois, em uma conversa com Leo Lama, que a Balada começaria exatamente no dia em que sua morte completa 15 anos”, conta. Na primeira vez em que o evento faz uma homenagem póstuma, Plínio está ao lado da autora Carolina Maria de Jesus.
Para Freire, o dramaturgo teve a importância de dar luz à voz das ruas, com contundência e verdade. “O teatro deve muito a ele. Esses personagens que perambulam perdidos nessa noite suja são muito pulsantes. Ele escrevia com uma humanidade muito latente, seu texto nos faz despertar.”
Santos
Com programação que iniciou nessa terça-feira, 18, (com a exibição do longa Dois Perdidos numa Noite Suja, dirigido por Braz Chediak, e do documentário Nas Quebradas do Mundaréu – A Viagem de Plínio Marcos, de Júlio Calasso) e vai até domingo, 23, o Cultura.Com.PlinioMarcos homenageia o santista em sua terra natal.
Nesta quarta, 19, Nas Quebradas do Mundaréu será apresentado de duas formas diferentes: no enredo da bateria da escola de samba X-9 e no espetáculo do grupo Oficina do Imaginário. Haverá, ainda, a palestra Plínio Marcos em Família, com Kiko Barros, também filho do dramaturgo. Amanhã será exibido o longa Querô, com direção de Carlos Cortez. No domingo, o grupo O Bando de Rua apresenta performance que inclui Navalha na Carne e O Abajur Lilás e Marika Gidali fala sobre a relação de Plínio com a dança. A programação completa pode ser vista no site estadao.com.br/e/plinioemsantos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.