Um Volpi raro vai ser leiloado nesta terça-feira, 25, pela Canvas Galeria de Arte, junto a outras 130 obras de artistas como Bonadei, Di Cavalcanti e Tomie Ohtake. Vista pela última vez na retrospectiva dedicada ao pintor modernista Alfredo Volpi (1896- 1988) pela galeria Almeida & Dale, em março, a tela, cujo lance mínimo foi fixado em R$ 2 milhões, está registrada no Projeto Volpi, responsável pela catalogação da obra do artista, sob número 2385. Pintada no início da década de 1970 e assinada no verso pelo artista, ela tem dimensões médias (67,5 x 103 cm, correspondente às telas de número 5 na organização de sua obra) e participou de várias retrospectivas do pintor desde 1975, entre elas a dedicada aos 90 anos do artista, realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP) em 1986, quando ganhou a assinatura, também no verso, do curador da mostra, o crítico Olívio Tavares de Araújo, amigo de Volpi.
Pouco usual é a cor, mas também a textura aveludada dessa tela, proveniente da casa de um colecionador mineiro, em que predomina o vermelho e se destacam bandeirinhas e mastros, figuras automaticamente associadas ao mestre modernista. O galerista Rodrigo Brant, dono da Canvas, e o leiloeiro Nelson Gavazzoni calculam que existam outros seis ou sete trabalhos com as mesmas características, o que transforma a tela num objeto do desejo dos volpistas, como são conhecidos os colecionadores do pintor – entre os quais se encontram o engenheiro e empresário Ladi Biezus, o advogado Marco Antonio Mastrobuono e o editor Orandi Momesso.
O mercado para as obras de Volpi está aquecido, especialmente com a perspectiva da realização da primeira retrospectiva internacional do pintor, que estaria sendo preparada pela Tate Modern – não confirmada nem pelo Instituto Volpi nem pela instituição inglesa. Uma exposição na Tate pode dobrar e até triplicar o preço das obras de um artista, como aconteceu com a brasileira de origem suíça Mira Schendel (1919-1988) após sua mostra na Inglaterra (de setembro do ano passado a janeiro deste ano), além do grande impulso que representou sua passagem pelo MoMA de Nova York, em 2009.
“Telas de Volpi à venda são raras”, garante o galerista Rodrigo Brant. Um dos artistas de maior liquidez no mercado brasileiro, Volpi já desperta o interesse do mercado estrangeiro, mas o problema da falsificação ainda existe e atingiu a comercialização, no ano passado, de uma têmpera sobre papel de 1978 atribuída ao artista pela Philips, importante casa de leilões de Nova York. O advogado Marco Antonio Mastrobuono, amigo de Volpi e criador do instituto que leva o seu nome, conseguiu que a Philips retirasse do seu catálogo essa obra em papel timbrado, nunca usado por Volpi, segundo Mastrobuono.
De modo geral, as suspeitas recaem sobre as pinturas dos anos 1980 atribuídas ao pintor. Mastrobuono garante que ninguém o viu pintando depois de 1985 e que o artista morreu com o mal de Alzheimer. A certidão de óbito de Volpi aponta igualmente o Alzheimer como uma das causas da morte. Menos suspeitas são as pinturas figurativas do período intermediário de carreira, paisagens e marinhas dos anos 1940 disputadas com menor ânsia pelos compradores, cujo perfil difere hoje dos tradicionais colecionadores de Volpi como Biezus, Mastrobuono ou Momesso, conhecedores da obra do pintor, cuja técnica está sendo exaustivamente estudada pela geóloga e restauradora Eva Mori há quase três anos na USP, para sua dissertação de mestrado.
Volpi recorreu à antiga técnica da têmpera para pintar grande parte de suas telas (o Instituto Volpi tem mais de 2 mil catalogadas). Muitos dos pigmentos naturais usados por ele foram coletados por seus amigos colecionadores, entre eles Ladi Biezus, engenheiro de formação. A análise de Mori vai facilitar a identificação desses pigmentos, fornecendo ao instituto elementos que possam garantir a autenticidade dos trabalhos com base em sua análise química.
Galerista há mais de 30 anos, o dono da Canvas, com dez anos de existência no Rio e seis em São Paulo, garante que nunca viu nos leilões uma tela de Volpi que rivalizasse com Bandeirinhas com Mastros, a obra que será disputada hoje e deve atingir preço superior a R$ 3 milhões, segundo suas expectativas. “Mas pode ultrapassar esse valor”, diz Brant. “Leilão é como Fórmula 1, sempre surpreende”, conclui o galerista. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.