O quarto ano do Festival Novas Frequências, que começa nesta segunda-feira, 1º, no Rio, conquista a cidade pela primeira vez. Explica-se: diferente do ano passado, em que uma série de apresentações de música experimental – da música ambiente ao techno, passando pelo drone e pelo industrial – se concentrava principalmente no Oi Futuro Ipanema, esta edição do festival vem muito mais robusta.
Com duas semanas de programação espalhada por seis espaços da cidade e apresentações ao ar livre, o evento expande o escopo incluindo duas residências artísticas e oficinas numa agenda de debates, shows e palestras sobre música experimental e de vanguarda.
Para Chico Dub, cofundador, diretor e curador do evento, o fato de que o festival tenha se aberto a outros espaços da cidade é tanto um sinal dos tempos quanto uma grande conquista. “O festival de música que acontece num lugar só é um festival do século 20. Acho mais interessante dialogar com a cidade”, explica. É por isso que as 33 atrações do festival, tocadas por artistas de países tão diferentes quanto a Dinamarca, o Japão e o próprio Brasil, se espalham por museus, centros culturais, casas de shows e apresentações ao ar livre.
O diálogo com a cidade não está só nos espaços que abrigam o evento, no entanto. “Para realizar um festival realmente único, a maneira de você conseguir algo novo é criar uma experiência inédita para o artista e consequentemente para o público, ter o cara explorando a cidade, encontrando artistas locais e pensando num projeto novo”, afirma Dub.
É o caso do japonês baseado no Brooklyn Aki Onda, cuja chegada ao Brasil antecipou o início do festival. Durante dez dias, Onda – que, além de músico e compositor, é também artista visual – visitou vários lugares da cidade em busca dos chamadas field recordings, gravando, com um Walkman de fitas cassetes dos anos 1980, cenários da cidade como a roda de samba realizada às segundas na Pedra do Sal, na Saúde, a Floresta da Tijuca e o Complexo da Maré, que reúne várias favelas na zona norte carioca.
A experiência casa bem com o trabalho de Onda, que ele mesmo define como cinema para os ouvidos. “Se eu gravo o som da chuva, o ouvinte consegue imaginar a chuva ou a água. Não é impossível criar uma montagem de som como se eu estivesse editando essas imagens conjuradas”, elabora o artista. Terminada a residência, Onda fará uma performance que utiliza o próprio Walkman como instrumento, organizando, distorcendo e manipulando os sons que coletou pela cidade.
Outra temática forte no festival é uma espécie de intercâmbio musical. O produtor português Marlon Silva, por exemplo, que se apresenta como DJ Marfox, se baseia em ritmos lusoafricanos como o kuduro (música angolana com batidas tribais e sincopadas) para fazer música eletrônica de pista. Usando o Fruity Loops, programa de composições eletrônicas para iniciantes por ser fácil de usar, ele é um dos expoentes da cena de dance music que tem florescido em Lisboa na última década, influenciada por ritmos africanos como o kizomba e a tarrachinha.
Marfox conta que a ascensão dessa cena valoriza uma influência cultural que há muito tempo já faz parte do país. “Antigamente, o kuduro só tocava em espaços africanos. Quando aparecia em outras festas, a ideia era Vamos brincar, vamos ver quem consegue imitar melhor um preto . Hoje as pessoas dançam de uma maneira muito mais à vontade”, explica.
Destaques:
– Philip Jeck
O artista sonoro britânico, cujo trabalho gira em torno de toca-discos e vinis antigos, realizará uma performance baseada em discos que encontrou no Rio durante sua residência artística.
– Vladislav Delay
O aclamado produtor eletrônico finlandês deve dar uma amostra de seu primeiro disco de música ambiente em dez anos, ainda não lançado, e um set de techno produzido sob a alcunha Rippati.
– 40% F…/Maneiríssimo vs. Domina
Dois selos cariocas de house e techno se encontram numa apresentação que funciona como uma batalha musical entre seus produtores, como Manara, ótimoKarater, DJ Guerrinha e Pessoas Que Eu Conheço.
– Quintavant Ensemble
Projeto desenvolvido especialmente para o festival reúne 13 nomes da cena experimental carioca divididos numa apresentação que culmina com todos tocando juntos.
– Cut Hands
O escocês William Bennett mescla techno e noise a percussão de rituais voodoo do Haiti.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.