Variedades

Roberto Bolaños, o Chaves, tem despedida emocionada

Faixas vermelhas penduradas decoraram a estrutura monumental do estádio Azteca. “Siganme los buenos!”, pediam, um convite ao último adeus a um dos ídolos máximos dos mexicanos. O estádio, imponente templo do futebol com sua capacidade para 110 mil pessoas, tem suas cercas decoradas com imagens de Pelé e Maradona, que aqui ergueram as taças dos Mundiais de 70 e 86. Mas ontem o dia era de celebrar México e exaltar o ícone que há mais de 40 anos criou personagens que são parte do imaginário coletivo na América Latina, Roberto Gómez Bolaños, ou simplesmente, o Chaves, morto na sexta-feira, aos 85 anos.

Antenas de Chapolim, roupas surradas de suspensório, cabelos presos em maria-chiquinhas tortas como a Chiquinha infantilizavam um público formado por famílias inteiras, de crianças a idosos, que já se aglomerava na entrada principal às 10h. Comerciantes vendiam de camisetas a flores brancas, martelos do Chapolim, tiaras brilhantes com antenas, balões e velas.

Valentina, de 6 anos, Max, 4, e Leonardo, 2, devidamente uniformizados de Chiquinha, Chaves e Quico, tentavam disfarçar a cara de choro a pedido da mãe, Melissa Aguirre. “Eu estava no carro, dirigindo, quando começou a tocar a música do Chaves no rádio e pensei que tinha acionado o CD sem querer, porque meus filhos são fanáticos, escutam e vêm Chaves todo dia”, contava Melissa. “Até que fizeram o anúncio da morte, e só Valentina entendeu e começou a chorar. Foi difícil conversar com eles e explicar que ele vai continuar com eles, mas que já não estava nesse mundo.”

No interior do Azteca, o gramado do clube América ganhou tapetes vermelhos que levavam a uma cúpula negra de estrutura metálica no centro, onde grandes fotos de Bolaños em preto e branco foram dispostas. Uma grande cruz e cadeiras para 400 convidados completavam a decoração. Os letreiros luminosos da lateral do gramado exibiam fotos de seus personagens.

Conforme as arquibancadas de baixo foram lotando, coros de músicas do Chaves, palmas e gritos de torcida, como “arriba, abajo, arri-ba-ba. Bolaños, Chespirito, rá- rá-rá” e o mais tradicional de todos, Cielito Lindo (“Ay ay ay ay canta y no llores”) tomavam o local. Os telões mostravam a trajetória do caixão do comediante da sede da Televisa em cortejo até o estádio.

Popular como o futebol, um dos símbolos máximos da cultura mexicana, Bolaños também era um homem muito conservador, partidário da direita, era contra o aborto e admirador do ex-presidente Vicente Fox. Mas hoje será louvado como um pioneiro da televisão. “Ele levou o México para o mundo e da maneira mais nobre, por meio da arte. Em seu olhar, a pobreza ganhou beleza. Ele nos ensinou que se pode ser feliz com pouco”, diz Librado Gutiérrez. Com camisetas vermelhas com o símbolo “CH” em coração, trazia a família – cada um com flores brancas. “Chapolim é o melhor super-herói. Não tem nenhum poder, não é forte, é torpe. Mas sempre será meu preferido”, contou sua filha, Jimena Gutiérrez.

Dona Francisca Lopez, de 55 anos, vinha com uma bandeira da Colômbia, lembrando que a adoração seguia viva na América do Sul. “Fiz questão de vir. Bolaños já não era mexicano, era de todos nós, latinos.” Ao lado dela, Lluvia Julio, de Lima, endossava: “Também o amamos muito no Peru, pode escrever aí”. Com pressa, a brasileira Daniela Souza passou correndo com uma bandeira do Brasil que destoava do figurino vermelho. “Cheguei ontem, não podia perder!”, gritou, rumo ao estádio.

Os mexicanos acompanhavam à distância a deterioração do estado de saúde de Bolaños, já que ele vivia recluso em Cancún com a esposa, Florinda Meza, a dona Florinda. No sábado à noite, uma cerimônia privada a familiares e amigos foi realizada na sede da emissora Televisa, para onde o caixão de Bolaños foi levado de Cancún. Florinda e os seis filhos estiveram presentes, além de colegas de trabalho do comediante.

Às 13h20, Florinda chegou ao estádio com os seis filhos e foi fortemente ovacionada. Em um caminhão vermelho aberto, o caixão de madeira, fechado, foi colocado e protegido por uma caixa de vidro. O carro deu uma volta pelo gramado ao coro de “Chavo” e foi levado à cúpula. Dos alto-falantes, uma voz pediu “um forte aplauso a Chespirito”, anunciando o início da homenagem. Em seguida, músicas emotivas com vozes infantis marcariam o tom, melodramático, do evento. Uma grande ironia, que este mesmo Bolaños que fez tanta gente rir por 40 anos, agora se despeça causando lágrimas pela primeira vez. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Posso ajudar?