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Cleonice Berardinelli e Bethânia leem Pessoa em DVD

Trinta anos separam o nascimento de Cleonice Berardinelli e o de Maria Bethânia. A devoção a um poeta eterno as uniu. A professora de literatura portuguesa e a cantora lançam o DVD (O Vento Lá Fora), de leitura de poesias de Fernando Pessoa (1888-1935), com a crença de que mais gente deveria lê-lo – mais do que isso: ser “inoculado por seu veneno”, como Cleonice, gaiata aos 98 anos, brinca nas imagens extras.

A seleção dos poemas foi feita por Dona Cléo, como é chamada no meio acadêmico, que a venera. É ela quem conduz tudo, na condição de especialista: ora corrige a dicção de Bethânia, que repete versos várias vezes, reverente, ora explica o significado de termos e trechos do início do século 20.

São 38 poesias e 64 minutos de enlevo, provocado não só pela potência existencialista dos versos, mas também pela interpretação das duas – Dona Cléo mais contundente, Bethânia, mais doce -, pela beleza do preto e branco, as sutilezas escondidas à primeira leitura, as inserções musicais (a primeira cena é de Bethânia ao piano). Em cartaz numa sala de cinema de arte do Rio, o filme estreia no Belas Artes nesta quinta-feira, 4.

Sumidade em Pessoa – em 1959, defendeu a primeira tese sobre a poética pessoana escrita aqui, a segunda do mundo -, Dona Cléo conheceu Bethânia depois de um show. No camarim, abraçaram-se num abraço que “não afrouxou até hoje”.

Em 2010, a carioca e a baiana receberam a medalha da Ordem do Desassossego da Casa Fernando Pessoa, centro cultural de Lisboa criado no prédio onde ele viveu seus últimos 15 anos e que homenageia quem divulga sua obra pelo mundo.
Três anos depois, elas estrelaram a mesa mais aclamada da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), lendo poemas. Foi ali que Bethânia teve a ideia do DVD, que sai por seu selo, Quitanda, e a Biscoito Fino.

A cantora convocou para a direção Marcio Debellian, com quem já havia trabalhado em seus recitais de poesia. Foram dois dias de declamações, uma pequena e calorosa plateia de convidados a saudá-las. A ideia é contactar o Ministério da Educação para que o filme chegue às escolas. No cinema, a sensação é de alumbramento. “Eu fiz na duração exata para que as pessoas não se perdessem. O verso aparece e te leva a outras lugares; quando você volta, o filme já foi. É uma cápsula de poesia dentro da sala”, descreve Debellian.

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