Quando o guitarrista Thurston Moore pisar, na noite desta quinta-feira, 4, no palco do Cine Joia, em São Paulo, já fará três anos que o Brasil (e o mundo) viram pela última vez a lendária Sonic Youth se apresentar ao vivo. A banda de Moore com Kim Gordon (sua ex-mulher), Lee Ranaldo e Steve Shelley, criada em Nova York no fim dos anos 1970, se apresentou pela última vez no SWU, em 2011. De lá pra cá, o casal se separou e a banda não mais se reuniu, Moore se envolveu em diversos projetos paralelos e agora volta ao País para apresentar seu The Best Day, álbum solo que teve boa repercussão crítica ao redor do mundo.
Moore conta, no fim da tarde desta quarta-feira, por telefone ao jornal O Estado de S. Paulo, que escreveu todo o álbum em Londres, para onde se mudou há dois anos. “Isso teve muito a ver com a qualidade do álbum”, afirma o simpático músico de 56 anos do outro lado da linha. “Sempre fiz álbuns em Nova York com o Sonic Youth, eles eram definidos pelas nossas vidas naquela cidade. Em The Best Day, muitas das emoções da minha vida atual vivendo em Londres estão lá, também”, conta.
“É um álbum que lida com todo tipo de sentimentos”, continua. “Eu gosto de ter uma atitude positiva em relação à vida, mas é claro que não é algo que todo mundo experimenta o tempo todo, então esse álbum tem alguma melancolia, sim.” A segunda faixa, Forevermore, por exemplo, é uma odisseia de guitarras que lutam entre si para tentar explicar o que a frase do refrão deixa meio que em aberto: “thats why I love you forevermore” (por isso que eu te amo para todo o sempre).
Moore gravou o álbum praticamente sozinho, mas logo em seguida formou a banda que agora excursiona com ele ao redor do mundo, a The Thurston Moore Band. Steve Shelley, antigo parceiro de Sonic Youth, segura as baquetas, e o baixo é de Deb Googe, baixista do My Bloody Valentine (“é só uma coincidência o fato de ela ser mulher tocando baixo, uma característica recorrente das bandas de Moore, mas por mim todos os músicos da minha banda seriam mulheres”, afirma, atribuindo um valor feminino à música – “acho que é por isso que pessoas em bandas de heavy metal, como Axl Rose, se vestem como mulheres, para encobrir o fato de que na verdade não há mulheres no palco”, completa, entre o cínico e o bem humorado).
Mas é com James Sedwards, guitarrista britânico que Moore conheceu em Londres, que a grande novidade acontece. “Enquanto eu toco todas as notas erradas, ele toca as certas, então agora eu meio que dependo dele”, brinca. “É uma banda muito cool.”
O ex-guitarrista do Sonic Youth, banda que era no início dos anos 1990 uma espécie de estandarte para grupos como o Nirvana e o Dinosaur Jr., diz não ser um músico completo e que o seu vocabulário musical ainda é parecido com o que era – embora a diversão que envolve a música ainda o motive. Moore conta que visitou, na terça, um clube de samba em São Paulo, e amou. “Há uma ideia de beleza nesse estilo que é o que as pessoas buscam na música, que ela seja moralmente elevada, bela, e compartilhada com as pessoas”, compara.
Sobre o último show do Sonic Youth, no Brasil em 2011, Moore diz não guardar lembranças tristes. “Eu sabia que aquele seria o último show por um bom tempo, mas para mim Sonic Youth é toda a minha identidade, eu não arranco isso do meu coração, mas a banda está inativa no momento”, afirma.
Para esta quinta-feira, Moore diz que o show pode também ter coisas mais antigas, desde o Psychic Hearts, seu primeiro álbum solo, de 1995, mas será, com justiça, todo voltado ao The Best Day – segundo o próprio, um “álbum bem mais estratosférico, pesado, maior, mais comprido, mais selvagem”. Para o líder do Sonic Youth, expectativa pouca sempre foi bobagem.
POPLOAD GIG com THURSTON MOORE
Cine Joia. Praça Carlos Gomes, 82 – Sé – São Paulo, SP. 11 3231-3705. Quinta-feira, 4/12. 20h – Show 22h. R$180 / R$90.