Trambiqueiro de bom coração. Bom de lábia apaixonado. Dócil espertalhão. A figura folclórica do personagem Pedro Malasartes (na língua espanhola chamado de Pedro Urdemalas), bastante comum na literatura e na cultura ibero-americana, ganhará uma nova versão cinematográfica pelas lentes de Paulo Morelli, diretor de Cidade dos Homens (2007) e Entre Nós (2013), com previsão de chegada aos cinemas no primeiro semestre de 2016.
Projeto antigo de Morelli, o roteiro data da década de 1980, antes mesmo de ser fundada a produtora O2, na qual ele integra o time de diretores ao lado de Fernando Meirelles. “Na época, preparamos uma série de TV sobre personagens folclóricos do Brasil. O Pedro Malasartes estava entre eles”, revela o diretor. O roteiro passou por diversas revisões ao longo das décadas, até chegar a 2008, quando Morelli começou a captar recursos para rodar o longa.
O novo Malasartes viverá nos tempos modernos, em um cenário do interior dividido entre São Paulo e Minas Gerais – com todos os sotaques inclusos, garante o diretor. O folclore nacional e a mitologia grega dividirão espaço na película, como se Malasartes habitasse ambos, o mundo real, cuja fotografia será mais amarelada, e o fantástico, com tonalidades mais azuladas. A inspiração vem do toque sombriamente cômico que Tim Burton dá às produções próprias. “Ele mistura o realismo das cenas. Passa momentos de tensão e faz você acreditar nas emoções. Cria uma empatia, ao mesmo tempo que coloca humor, um humor irônico e negro”, diz Morelli. “Pode ser algo interessante para referência.”
Malasartes ficará diante da figura da Morte, que, em outras histórias, já foi enganada pelo personagem, e das Parcas, três deusas do imaginário grego responsáveis por estabelecer o destino dos seres humanos. “É um mundo místico no qual Morte e as Parcas disputam o poder”, revela ainda Paulo Morelli.
Grande parte do elenco principal já está sob contrato. O pernambucano Jesuíta Barbosa (de Serra Pelada, Tatuagem e Praia do Futuro) dará vida ao personagem já interpretado pelo eterno Amácio Mazzaropi, no filme de 1960. O melhor amigo do protagonista será vivido por Matheus Nachtergaele. Curiosamente, o ator interpretou uma versão de Malasartes, o João Grilo, na recriação do personagem de Ariano Suassuna na peça Auto da Compadecida, transformada em filme em 1999. Isis Valverde será a namorada e grande amor da vida de Malasartes – e, aí, estará um ponto que diferencia a produção de Morelli. “É um personagem capaz de dar um golpe em alguém, mas também é extremamente apaixonado”, conta. Milhem Cortaz é o antagonista da trama no mundo real. Já no universo fantasioso, Leandro Hassum será o ajudante da Morte, enquanto Vera Holtz e Maria Clara Gueiros interpretarão duas das três Parcas – a Morte e uma das Parcas ainda não têm atores definidos. “Malasartes mistura ingenuidade com esperteza”, afirma o diretor. “Foi o que me atraiu. É um personagem essencialmente brasileiro.”