Leitor de Graciliano Ramos desde que adolescente, em 1954, se apaixonou por Memórias do Cárcere, Sylvio Back há tempos tinha o projeto de filmar Angústia. Chegou a escrever um roteiro premiado pela Ancine, mas o projeto empacou quando os direitos de adaptação caducaram e a família do escritor decidiu que não seriam renovados. Mas Back não desistiu de acertar suas contas com o escritor. Fez o documentário O Universo Graciliano, que estreia nesta quinta-feira, 18, nacionalmente, no Belas Artes.
Ao contrário de outros grandes escritores que foram maltratados pelo cinema brasileiro, Sylvio reconhece que Leon Hirszman e Nelson Pereira dos Santos honraram Graciliano e fizeram obras seminais – São Bernardo, Vidas Secas e Memórias do Cárcere. O que o atraiu foi o que ele identifica como um hiato, uma angústia – o descompasso entre vida e obra.
Como um escritor alinhado, politicamente, conseguiu fazer uma obra tão desalinhada, moralmente, esteticamente? “Sob muitos aspectos, Graciliano era um homem do partido (comunista), mas não construiu sua obra à sombra do realismo socialista. Foi um resistente. Chorou, quando Stalin morreu, mas se decepcionou com a União Soviética.”
O Universo Graciliano dá conta dessa contradição entre o homem e o artista. Sylvio esmiúça material de arquivo, entrevista pessoas próximas do autor. Ledo Ivo faz uma extraordinária síntese da obra de Graça. “É uma crítica de derrubar. Lúcida, acurada, brilhante.” De certa forma, forneceu um norte. “O cinema brasileiro, ao cultivar a biografia, anda muito chapa-branca. Fujo da hagiografia como o Diabo da cruz”, reflete o diretor.
Para ele, Graciliano não foi só um grande escritor. Era cinéfilo, e cineasta – “Angústia é um livro complicadíssimo, mas muito cinematográfico. Ele escrevia como se filmasse.” Para ser fiel a Graciliano, é preciso ser cinematográfico. Tal o desafio que Sylvio Back encara, e transcende, em seu novo filme. O próximo, A História É Teimosa, será um projeto grande, sobre a Guerra do Paraguai, vista pelo próprio cinema.