A tarefa de indicar os principais guitarristas brasileiros de todos os tempos poderia ter resultado em uma mera lista de preferidos dos autores. Mas os jornalistas Leandro Souto Maior e Ricardo Schott conseguiram escapar do tom relatorial que ameaça levantamentos do tipo. Nas pouco menos de 180 páginas do recém-lançado Heróis da Guitarra Brasileira – A História do Instrumento por Seus Principais Nomes, eles contam como o violão se eletrificou ainda na década de 1930 do século passado, quem foram os pioneiros instrumentistas, quem se destacou ao longo de todos esses anos e quais as apostas do futuro.
A obra não chega a ser uma enciclopédia, nem os autores se propõem a isso. A leitura flui sem dificuldades, com informações interessantes sobre os instrumentistas perfilados – formação, influências, guitarras preferidas, principais discos que gravaram, historinhas curiosas.
Souto Maior, de 41 anos, guitarrista da banda Fuzzcas, e Schott, de 40, são repórteres musicais do jornal carioca O Dia. Para assinar o prefácio, de três parágrafos, convidaram o guitarrista Roberto Frejat, que enaltece o “violão brasileiro, (…) algo bem típico e tradicional da nossa linguagem”.
“E esse violão termina por nos conduzir para a guitarra”, deduz o cantor e compositor, um dos expoentes da geração que surgiu na primeira metade dos anos 1980 e se firmou a partir daí.
Os autores dividiram o livro, editado pela Irmãos Vitale, em quatro capítulos. O primeiro deles fala dos guitarristas iniciais, músicos como Bola Sete, os baianos Dodô e Osmar Macedo (criadores do trio elétrico), Poly e Zé Menezes. A narrativa mostra o que fizeram, mesmo sem aparelhagem adequada, para eletrificar o som dos violões acústicos. Há ainda uma espécie de anexo sucinto sobre as guitarras nacionais mais populares nos anos 1960 e 1970.
Titulado Os Primeiros Heróis, o segundo capítulo começa, na prática, a relacionar guitarristas, independentemente do tipo de música que tocam. Há jovens-guardistas como Gato, apelido de José Provetti (1941-1996), e jazzistas como Hélio Delmiro. A trinca básica do rock-pop nordestino dos 70 – Armandinho Macedo (filho de Osmar, do trio elétrico), Pepeu Gomes e Robertinho de Recife – está presente. Os tropicalistas Sérgio Dias e Lanny Gordin, também. Toninho Horta, craque das harmonias, e Heraldo do Monte, inventivo na fusão do jazz com ritmos brasileiros, são perfilados com roqueiros como Luiz Sérgio Carlini e Celso Blues Boy (1956-2012).
A leva seguinte, abordada no terceiro capítulo, já reúne metaleiros (Andreas Kisser e Eduardo Ardanuy), ladeados por profissionais que poderiam muito bem estar no grupo anterior, como Frederiko (Som Imaginário), o pernambucano Paulo Rafael (há 40 anos na banda de Alceu Valença) e Natan Marques.
O livro é encerrado com a listagem de guitarristas mais novos, mas com pelo menos 20 anos de estrada. Davi Moraes, Beto Lee e Pedro Sá, todos quarentões, estão entre eles. O capítulo tem nome: Ei, Vocês Não Vão Falar da Gente?.
A preparação da obra custou oito meses aos autores, que acharam personagens há muito tempo desaparecidos do meio musical. O guitarrista Perinho Albuquerque, arranjador, produtor musical e parceiro de Caetano Veloso em Guá, faixa do álbum Joia (1975), foi localizado no litoral baiano. Não é mais um profissional da música. Aos 68 anos, dedica-se à construção naval. Com parentes, trabalha em estaleiro próprio.
HERÓIS DA GUITARRA BRASILEIRA
Autores: Leandro Souto Maior e Ricardo Schott
Editora: Irmãos Vitale (176 págs., R$ 45)