As retrospectivas marcaram um ano que já começou com um tributo à vanguarda com a abertura, em abril, na Pinacoteca do Estado, de uma exposição dedicada ao Zero, grupo criado em 1958 na Alemanha e que antecipou manifestações e tendências contemporâneas como o happening e a arte conceitual. A mesma Pinacoteca inaugurou em julho a melhor das mostras retrospectivas de 2014, vinda da Tate Modern, que reuniu parte expressiva da produção da artista suíça, naturalizada brasileira, Mira Schendel (1919-1988). Também de fora veio a retrospectiva do franco-alemão Hans Hartung (1904-1989), mestre da arte informal representado na mostra do Centro Cultural Banco do Brasil (de maio a julho) por 162 obras abstratas.
Quatro mestres brasileiros foram igualmente homenageados com retrospectivas históricas. Em março, a Galeria Almeida & Dale abriu uma mostra de raras pinturas de Alfredo Volpi (1896-1988) com 80 telas de diferentes fases, cobrindo todos os períodos de produção do nosso maior mestre moderno. A curadoria revisitou das primeiras pinturas dos anos 1920 até as últimas, passando pela transição do figurativo para a abstração geométrica nos anos 1950.
Nome tão importante como Volpi, o gravador expressionista Oswaldo Goeldi (1895-1961) também ganhou, em julho, na Galeria Millan, uma mostra de aquarelas e desenhos raramente expostos, além de uma série de xilogravuras que dialogam com o melhor produzido pelos expressionistas alemães dos anos 1930, interlocutores íntimos de Goeldi.
Duas outras mostras retrospectivas completam o quadro das melhores exposições dedicadas aos históricos do construtivismo geométrico: o Instituto de Arte Contemporânea (IAC) abriu em setembro a de Lothar Charoux (1912-1987), que participou da fundação do grupo Ruptura, em 1952, embrião do movimento concreto. A Galeria Berenice Arvani inaugurou no começo de dezembro a de Arnaldo Ferrari (1906-1974), que teve uma experiência similar à de Volpi, começando como pintor dos arrabaldes e terminando por geometrizar fachadas e casarios, como o construtivista uruguaio Torres-García.
O ano também foi marcado por exposições de grande porte produzidas por museus e institutos culturais. A Pinacoteca abriu em novembro a exposição do contemporâneo Ron Mueck, australiano que produz esculturas gulliverianas com até 3 metros de altura em resina, fibra de vidro, acrílico e silicone, buscando uma correspondência anatômica fiel com seus modelos. Mueck impressiona pelo realismo, mas é fogo de artifício, artista para as massas, como a japonesa Yayoi Kusama, obcecada por bolinhas, que fez sucesso no auge da arte pop e foi resgatada numa retrospectiva do Instituto Tomie Ohtake, que também promove a mostra dedicada ao surrealista Salvador Dalí, em cartaz até 11 de janeiro. Menos concorrida, a mostra Tauromaquia, no Museu de Arte Brasileira da Faap, trouxe obras mais expressivas de artistas espanhóis – Goya, Picasso e também Dalí – que mostram como os dois últimos têm uma dívida enorme com o mestre.
Ainda entre as retrospectivas, o centenário do pintor gaúcho Iberê Camargo (1914-1994) foi lembrado em mostras na fundação que leva o seu nome e no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). A de Porto Alegre tentou um inútil diálogo entre o solitário Iberê e contemporâneos. A do CCBB, em São Paulo, melhor, foi dedicada a uma revisão de seu trabalho desde 1940. Finalizando o capítulo revisionista, a da coleção Fadel no Museu de Arte de São Paulo, com 216 obras do colecionador carioca, foi superlativa.
Entre as exposições individuais de artistas brasileiros destacaram-se as do pintor Cássio Michalany na Galeria Raquel Arnaud, a de Cildo Meireles na Galeria Luisa Strina e a de Rodrigo Andrade na Galeria Millan. De fora vieram exposições de Julian Schnabel (no Masp e na Galeria Raquel Arnaud), Francis Bacon (Paço das Artes) e Damien Hirst (White Cube).
Destaques:
MIRA SCHENDEL
Mostra da Pinacoteca cobriu todos os períodos da produção da artista e traçou uma correspondência entre as primeiras e as últimas obras da artista.
COLEÇÃO FADEL
O melhor da arte construtiva do Brasil num acervo de 216 obras, de Mary Vieira ao talento vivo de Judith Lauand, com 93 anos
RETROSPECTIVA VOLPI
Obras raras que mostram a evolução do maior pintor moderno do País, de 1920 a 1988
CÁSSIO MICHALANY
A melhor exposição de um pintor radical, avesso a concessões
IBERÊ CAMARGO
A face trágica do expressionista gaúcho no País do tropicalismo