Mike Leigh saiu vitorioso do Festival de Cannes, em maio passado. Mr. Turner pode ter tido críticas divididas, mas Timothy Spall recebeu o prêmio de melhor ator, atribuído por unanimidade, revelou a presidente do júri, a cineasta Jane Campion.
Spall fez um discurso emocionado, dizendo que há alguns anos foi diagnosticado com câncer e duvidava que seguiria vivendo, muito menos que ainda tivesse energia para interpretar um personagem intenso como o pintor J.M.W. Turner. O filme retrata o terço final da vida do pintor, sua relação com o pai e as polêmicas com colegas da Academia e os críticos. Turner amava a luz. Sua última frase, que o filme reproduz, é – O sol é deus.
Depois do prêmio em Cannes, Spall era favorito no Globo de Ouro e no SAG, o prêmio do sindicato dos atores dos EUA, mas ficou de fora de ambas as listas. Ele ainda poderá ser indicado para o Oscar, por mais que isso pareça improvável, sem o aval do sindicato. Uma indicação poderia motivar a Sony a lançar o filme nos cinemas brasileiros, o que a empresa não parece inclinada a fazer.
Mike Leigh tem sido um habitué em Cannes e até já ganhou a Palma de Ouro – por Segredos e Mentiras, em 1996. Mas cada vez mais a crítica discute se ele é mesmo um grande cineasta. Mike Leigh exagera na representação estereotipada que faz dos ingleses. Os de Mr. Turner chegam a irritar, o que não impede o filme de ter pelo menos uma bela cena.
Turner hospeda-se no hotel daquela que será sua mulher, mas ela ainda é casada com um antigo lobo do mar. O cara trabalhava em navios negreiros. Relata o horror dos navios que conduziam escravos. A cena é poderosa. É real – inspirou um dos quadros mais famosos do pintor.