Toda praia sempre rende bons personagens. Aquele cara esquisito com a sunga xadrez ou, quem sabe, uma garota de beleza exuberante que deixa metade dos marmanjos de queixo caído. O verão, de fato, tem dessas coisas. A praia de Juquehy, em São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, recebeu, por dois dias, uma dessas figuras pitorescas. Donavon Frankenreiter é simpático e boa-praça. Dono de uma barba de dar inveja a qualquer lenhador, o músico e surfista põe mesmo a prancha na cabeça e não poupa elogios ao País e ao amigo Gabriel Medina, campeão mundial de surfe em 2014. “Já estive muitas vezes aqui. Sou praticamente brasileiro. Medina é o surfista mais completo da atualidade”, afirma o californiano, de 42 anos, que recebeu o jornal O Estado de S.Paulo para uma entrevista exclusiva na pousada onde se hospedou.
Às 8h30, antes mesmo de a reportagem chegar ao local combinado, Donavon já se preparava para pegar suas ondinhas matinais, como ele mesmo gosta de frisar. “Está muito quente, não é mesmo? Moro no Havaí, mas nada se compara a esta temperatura tão alta. O vento não ajudou muito, porém, deu para curtir legal. Sem isso, eu não funciono durante o dia. Surfe de manhã e música à noite: este é o lema”, brinca.
Donavon Frankenreiter nasceu na Califórnia, mas, pelo número de vezes que já veio ao País, o norte-americano já se sente em casa. Ele fala com propriedade sobre as praias brasileiras. São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina são apenas alguns dos locais visitados por ele nos últimos anos. “Já perdi a conta de quantas vezes vim para cá. Mais de vinte, talvez. É sempre bom estar perto do público brasileiro”, diz o músico que faz show nesta quinta-feira, 22, à noite no Cine Joia, em São Paulo.
Aos 15 anos, o então adolescente Don conheceu Jack Johnson. Ele alugou um quarto na casa dos pais do cantor no North Shore de Oahu, no Havaí. Desde então, a dupla firmou uma parceria de sucesso nas ondas e na música. “O Jack acabou se tornando uma grande estrela. Comecei a levar as coisas mais a sério, coincidentemente, quando ele criou seu próprio selo, o Brushfire Records. Perguntei se ele queria produzir meu disco. O convite foi aceito na hora. Tenho um carinho enorme por ele. Queria poder vê-lo mais, mas Jack é uma pessoa muito ocupada. Todos nós temos nossos compromissos. Ele está sempre em turnê. Quem sabe não gravamos algo juntos em breve? Seria prazeroso”, diz.
O músico também é amigo do surfista norte-americano Kelly Slater, com quem, inclusive, já fez algumas parcerias musicais. Um vídeo que circula pela internet mostra o atual campeão mundial de surfe, Gabriel Medina, dando uma canja na percussão ao lado de Donavon durante a música It Dont Matter. “Kelly certamente é o maior surfista que o mundo já teve. Seus títulos comprovam isso. Não dá para dizer se Gabriel Medina vai superá-lo algum dia. São pessoas diferentes, com personalidades distintas. Tenho uma admiração enorme por Gabriel Medina. Ele é o surfista mais completo da atualidade e ainda vai conquistar muitos campeonatos mundiais para o Brasil. Medina é um menino simples e bem preparado para isso. Torço por ele”, complementa o músico.
Intenso. O trabalho mais recente de Donavon, Start Livin (2012), mostra um lado mais família dele. As composições do disco falam sobre amor. “As canções colocam em pauta a minha esposa e os nossos dois filhos (Hendrix e Ozzy), além da vida que construímos no Havaí. Música é aquilo que você está sentindo no momento. Às vezes, demoro semanas para escrever alguma coisa. Em outras ocasiões, tudo flui tão rápido”, afirma.
O californiano, que também se apresenta no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro nos dias 24 e 25 de janeiro, respectivamente, diz que está preparando um disco de inéditas. “Nós já finalizamos 9 ou 10 músicas. O álbum deve ficar pronto em meados de maio. Em breve, iremos para um estúdio no Texas onde todos os músicos passarão muito tempo juntos. A meta é terminar uma canção por dia para adiantar o processo. Será algo bastante intenso”, explica.
Donavon Frankenreiter lamentou a morte do surfista brasileiro Ricardo dos Santos, o Ricardinho. “Tive a oportunidade de encontrá-lo algumas vezes no Havaí. Fiquei extremamente chateado com o que aconteceu. É sempre muito difícil ver alguém perder a vida dessa forma. Ainda mais um esportista que sempre buscou superar seus limites. Ricardinho era um dos maiores surfistas de ondas tubulares do Brasil e talvez do mundo”, afirmou.
Ricardinho levou três tiros, entre o tórax e o abdômen, na manhã da última segunda-feira, dia 19, após um desentendimento com um policial. O surfista morreu na terça, no Hospital Regional de São José, na Grande Florianópolis. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.