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Versão do caso Du Pont em ‘Foxcatcher’ não pretende ser conclusiva

Luiz Carlos Merten
Em outubro, quando Foxcatcher – Uma História Que Chocou o Mundo passou na Mostra de São Paulo, o Estado cravou as apostas de seu repórter – não apenas haveria indicações para o Oscar de melhor ator (Steve Carell) como também para filme, diretor e ator coadjuvante. Foxcatcher só não foi indicado para filme. Concorre a ator, diretor, ator coadjuvante, roteiro original e maquiagem. Carell, o diretor e roteirista Bennett Miller e Mark Ruffalo, que faz o irmão de Channing Tatum.
O filme que estreia hoje se inspira numa história real. Em 1997, o milionário norte-americano John Eleuthere Du Pont, integrante de uma das mais tradicionais famílias da Pensilvânia (e dos EUA), foi condenado pelo assassinato de Dave Schultz, campeão olímpico de luta livre que fazia parte da equipe que ele criara – Foxcatcher – para resgatar, como dizia, os valores mais puros da América.
Ornitólogo – autor de diversos livros sobre pássaros -, filatelista e treinador esportivo, Du Pont começou a apresentar um comportamento paranoico, mas a fortuna, e o escudo da família, o blindaram até ele matar. Preso, permaneceu na cadeia até a morte, em 2010. Vivendo à sombra da mãe idosa, Du Pont foi um edipiano que muito possivelmente reprimia sua homossexualidade – e ela o levava a se cercar de todos aqueles jovens atletas de corpo perfeito. Ele atraiu os irmãos Schultz com a promessa de oferecer-lhes as melhores condições para que Mark, o lutador, e David, seu irmão treinador, pudessem aspirar ao ouro olímpico. Deu tudo errado. Du Pont tornou-se agressivo, autoritário e disparou contra David, matando-o.
A história atraiu o diretor Miller por combinar elementos de dois longas que fez antes – em Capote, inspirado no período em que o escritor Truman Capote acompanhou o julgamento que resultou na sua obra-prima de não ficção, À Sangue Frio, ele abordou a pena de morte; em O Homem Que Mudou o Jogo, contou a história de um revolucionário do esporte, que usou as estatísticas para, como diz o título, virar o jogo. O esporte, a pena de morte, a homossexualidade, tudo levava Miller a Foxcatcher. Em Cannes, no ano passado, onde o filme concorreu – e ganhou o prêmio de direção, mas ele ainda não sabia ao conversar com o repórter -, Miller explicou que a história, apesar de toda a mídia que teve na época, não é muito conhecida. O que ele fez foi juntar os pedaços conhecidos e dar a sua versão.
“Não creio que se possa dizer que as coisas foram exatamente assim. Ninguém sabe. Posso apenas arriscar e tentar ser acurado, mas ninguém consegue entrar na cabeça do outro. Já tinha ouvido falar em Du Pont, claro, mas nunca como um projeto. Há oito anos (agora quase nove – a entrevista foi em maio passado), alguém me deu um recorte de jornal dizendo que poderia ser interessante. O repórter lembrava o caso, e a cobertura da grande imprensa era toda baseada no fato de um dos homens mais ricos dos EUA ter sido condenado por assassinato, e num caso em que, mesmo não havendo dúvida de seu envolvimento, os motivos nunca foram muito claros. Isso, sim, me interessou. Como o projeto tardou, pois eu simplesmente não conseguia o dinheiro, tive tempo de (re)construir a trama e os itinerários dos personagens. Para mim, sempre foi uma história de pais e filhos, mais que de homossexualidade reprimida.”

E ele revela – “Desde que comecei a me envolver, nunca pensei em outro ator. Achava que Channing (Tatum) tinha o physique du rôle e o temperamento para fazer o papel. Steve (Carell) também se impôs, mas eu confesso que me deu mais trabalho convencê-lo, embora o desafio não fosse tirar Steve da sua zona de conforto. Ele realmente tinha necessidade de saber o que não podia lhe dizer, sobre as motivações profundas do crime. Pensei nele por causa de O Rei da Comédia, meu melhor (Martin) Scorsese. E não por causa de Robert De Niro, mas pelo próprio Jerry Lewis. Havia um Jerry Lewis antes e há outro depois. Nunca consegui vê-lo da mesma forma depois daquele filme. Felizmente, Steve entrou na minha viagem.”

O júri de Cannes, presidido pela cineasta Jane Campion, impressionou-se menos que a Academia de Hollywood com a transformação física de Steve Carell. Isso sempre conta pontos no Oscar, mas este ano tem um que se transforma mais que ele – Eddie Redmayne, o Stephen Hawking de A Teoria de Tudo. Carell desconversava, em Cannes. “Seria uma honra, mas tem muito chão pela frente.” Sobre o nariz postiço e demais transformações físicas, contou: “Eram três horas diárias de maquiagem. Usava esse tempo para tentar entrar na mente de Du Pont. Me via mudando e tentava decifrá-lo, mas ele permaneceu um enigma. Foi perturbador.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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