Em entrevista ao GuarulhosWeb, o ator Antonio Fagundes e seu filho Bruno Fagundes contam como é a relação dos dois nos palcos. Eles adiantam que o público vai conferir uma família nenhum pouco convencional interpretada por eles e pelos atores Arieta Correa, Eliete Cigaarini, Guilherme Magon e Maíra Dvorek na comédia perversa “Tribos”.
O espetáculo terá apresentação única em Guarulhos, neste sábado, dia 31, no Teatro Adamastor. A peça conta a história de Billy (Bruno Fagundes), que nasceu com deficiência auditiva e foi criado em um ambiente com pouca liberdade, até encontrar com a jovem Sylvia (Arieta Correia), quando conhece uma nova forma de viver. Os ingressos já estão a venda pela internet.
Esta é a terceira vez que Antonio Fagundes trabalha com o filho. Além do espetáculo Tribos, que está em cartaz, a dupla também atuou na peça Vermelho em 2012 e na novela Meu Pedacinho de Chão na Rede Globo em 2014.
Antonio Fagundes
Como é dividir o palco com seu filho?
É maravilhoso! Sinto que aprendo tanto com ele, como ele aprende comigo. A relação de trabalho fica muito fácil. Mas é fácil não porque ele é meu filho, mas pelo profissional que ele é. Se fosse chato trabalhar com ele, não estaríamos juntos novamente em mais um projeto.
Como pai/ator você percebe semelhanças entre o começo de sua carreira e as ações dele profissionalmente?
Eu vejo no Bruno uma entrega muito parecida com a minha na idade dele. Ele encara o trabalho com muita seriedade, mas acima de tudo, é apaixonado pelo que faz; eu fiquei muito feliz por perceber no Bruno um profissional tão apaixonado por teatro quanto eu.
Há alguma semelhança entre a família encenada no espetáculo e a sua família?
Não! Graças a Deus! Tenho uma relação muito harmoniosa com minha família.
O que você tem sentido do público após as apresentações?
A recepção do público tem sido extraordinária. Muito calorosa. Ficamos 1 ano em cartaz em São Paulo, em seguida fizemos uma turnê por Portugal. É o terceiro espetáculo que levo para o país. É um texto extremamente comunicativo (nós o chamamos de comédia perversa), um tema acessível a qualquer tipo de público. Tivemos mais de 50 mil espectadores por lá, pelas 9 cidades que passamos em 45 dias. A peça fala sobre família, sobre relações, união, aceitação, troca. Antes de qualquer coisa, o espetáculo estabelece um contato imediato com qualquer tipo de platéia em qualquer parte do mundo. Não é a toa que este texto que fala com muito humor de problemas tão sérios tenha sido montado em mais de 10 países com enorme sucesso. A montagem brasileira não foge a esta regra, no Brasil até agora tivemos mais de 100 mil espectadores.
Bruno Fagundes
Como é dividir o palco com seu pai?
É incrível! Já é nosso terceiro trabalho juntos, fizemos Vermelho (em 2012, uma temporada de quase 1 ano), Tribos em seguida, e durante nossa temporada em São Paulo estivemos na mesma novela, Meu Pedacinho de Chão. É único dividir a cena com um profissional como ele. Íntegro, apaixonado, parceiro e disponível. E, melhor de tudo, meu pai.
Ele costuma te dar dicas?
Não exatamente. Não funciona assim, como todo mundo pensa. Quando estamos em cena, a responsabilidade é de todos, em conjunto. Ele é sim um parceiro muito generoso, sempre atento ao trabalho dos colegas, ele nunca perde a oportunidade de jogar a peteca pro alto para que os outros recebam lá em cima. Só isso já é um privilégio e uma raridade de se ver. Mas trocamos muito! Nosso trabalho é muito democrático.
Sempre foi seu sonho ser ator?
Meu sonho sempre foi ser artista. Eu amo arte. Não vivo sem o estímulo que a arte proporciona. Era mesmo uma questão de tempo, de achar qual forma de expressão artística me representaria melhor. Aos 13 anos descobri e agradeço todos os dias à minha decisão.
Como é interpretar um deficiente auditivo?
É desafiador demais! Mais do que minha responsabilidade em ser fiel à realidade, existe o desafio diário de manter frescos os estímulos internos do personagem. Como é ser surdo? Qual é a dor que ele enfrenta diariamente ao ser incompreendido? Como representar tudo isso em cena, de forma convincente e verdadeira? É um personagem que requer muita entrega, muita honestidade com meus sentimentos e acima de tudo, muita observação e compaixão para entender essa VIDA tão diferente da minha.
Você percebe semelhanças entre o personagem e o sua vida pessoal?
Todo personagem carrega um pouco do intérprete e vice-versa. Afinal, sou eu que o represento, o personagem está lá no papel, impresso, preto no branco. Acho que dividimos a ambição que ele tem. O Billy não mede esforços pra chegar onde quer, enfrenta todas as dificuldades e segue em frente. Mesmo com a sua condição ele nunca se vitimiza, mas é humano e também erra como qualquer um de nós e não tem medo de mostrar suas fragilidades.
Como foi feito o laboratório para interpretar o seu personagem?
Foi muito emocionante. Comecei entrando em contato com profissionais que trabalham com a surdez diariamente: fonoaudiólogos, otorrinos, intérpretes de Libras, militantes da causa surda, até chegar em deficientes auditivos propriamente. Me inseri no universo deles de cabeça. Descobri uma nova forma de ver a vida e sentir as pessoas à minha volta. No começo, me foquei muito na parte "técnica" da construção. A fala de quem nasceu surdo é muito característica. Não queria simplesmente imitá-la – corria o risco de ficar falso, patético. Então tentei entende-la da forma mais completa possível. Além disso, em pelo menos 1/3 da peça o Billy se comunica através de Sinais. Fiz questão de aprender LIBRAS para que ficasse um trabalho contundente. Depois disso, juntei todas essas informações e aí veio a parte mais difícil: fazê-lo existir.
O que você tem sentindo do público após cada apresentação?
A reação do público tem sido muito positiva. Já estamos há quase 1 ano e meio em cartaz, fizemos mais de 100.000 espectadores, isso é um presente. Uma demonstração direta de que a peça não só agrada, como emociona, diverte, faz refletir. Fico extremamente emocionado com o depoimento diário do público lá, depois do espetáculo, e também via redes sociais.