Variedades

Marcelo de Jesus rege no Teatro São Pedro

A primeira ópera a que ele assistiu no palco foi A Flauta Mágica, em 1983. Quase uma década mais tarde, já apaixonado pelo gênero, seguiu para a universidade. E o primeiro espetáculo do qual participou, ainda como pianista, foi As Bodas de Fígaro. Na ocasião, foi ouvido pelo maestro Luiz Fernando Malheiro, que o levou para o Teatro Municipal, onde faria sua estreia, em uma vesperal lírica, com La Clemenza di Tito. Anos se passaram e, como maestro estabelecido, ele foi a Bogotá fazer seu début internacional em 2006. A ópera? Don Giovanni.

Vê-se logo: não é por acaso que, no cenário operístico brasileira atual, o nome do maestro Marcelo de Jesus está profundamente associado à obra de Mozart, na qual é um de nossos principais especialistas. A sucessão de óperas do compositor, é verdade, não aconteceu de caso pensado – e, na trajetória de Jesus, há ainda um punhado de óperas do bel canto e também do século 20. Mas ele ressalta que, desde o início, a música de Mozart representou pessoalmente “uma linguagem musical bastante importante”. “E isso só se desenvolveu com o tempo, assim como minha relação com essa música. O que eu aprendi na escola é que não se mexe uma nota nessas partituras, que o respeito ao texto precisa ser cego. Mas fui descobrindo que, na verdade, o desenvolvimento de uma relação pessoal com a música de Mozart passa pela compreensão da partitura como um guia, uma vez que ele mesmo foi um grande improvisador.”

O público de São Paulo terá duas chances de ouvir de perto a concepção mozartiana do maestro. Ele está na cidade, onde rege nesta sexta-feira, 20, e domingo, 22, duas récitas de La Clemenza di Tito, abrindo a série de Cortinas Líricas (obras em versão de concerto, com pequenos elementos cênicos) do Teatro São Pedro. “É a última ópera de Mozart e nela me parece muito importante a ideia da música pela música, da música pura. Você não vê aqui os grandes dramas ou questões humanas que são discutidas, por exemplo, em Don Giovanni ou As Bodas de Fígaro. É uma escrita musical que, de certa forma, olha para trás, em direção ao barroco.”

Isso se manifesta em um dos aspectos mais interessantes da partitura, ressaltado por Jesus: a presença de variações, em que os materiais musicais das árias são retrabalhados pelo cantores. “É interessante trabalhar com jovens artistas, ainda sem vícios, abertos a esse tipo de experimentação. Escrevi as variações, mas, desde o início, deixei claro para eles que cada uma delas precisa ser pensada em conjunto com o intérprete, para que possa ser orgânica com relação à voz”, explica. Participam dos concertos jovens solistas, como o tenor Gilberto Chaves, as sopranos Camila Titinger e Andreia Souza e o baixo Gustavo Muller.

Marcelo de Jesus está há 13 anos em Manaus, onde é diretor dos corpos artísticos, regente titular da Orquestra de Câmara do Amazonas e diretor adjunto do Festival Amazonas de Ópera, e tem construído um repertório consistente. Rege pela primeira vez em sua São Paulo natal uma ópera. E quando estará à frente de uma nova montagem na cidade? “Ah, tudo a seu tempo”, ele diz. “Não há pressa. Aos 43 anos, sou jovem para um maestro. Já fiz muita coisa, mas tenho tempo pela frente”, acrescenta. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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