Variedades

Osesp abre nova temporada com Marin Alsop

“Eu quero ficar.” A resposta de Marin Alsop é direta. Ela abre, a partir desta quinta-feira, 27, na Sala São Paulo, sua quarta temporada à frente da Osesp – e, nos bastidores, seu contrato (que vai até 2016) começa a ser renegociado. É uma conta complicada. Ela também comanda a Sinfônica de Baltimore, onde fica até 2021. Mas, nas últimas semanas, com o anúncio da saída do maestro Alan Gilbert da Filarmônica de Nova York, seu nome entrou nas listas de possíveis substitutos da imprensa internacional. “São processos longos, com muitos aspectos. De minha parte, fico honrada com a lembrança, ainda mais por ser nova-iorquina. Mas quero ficar aqui. Aprendi que vale mais estarmos felizes com o que temos do que entrar em disputas como essa.”

Alsop comanda a Osesp esta semana na interpretação de Rapture, de Christopher Rouse, e da Sinfonia n.º 5 de Gustav Mahler. Não é a primeira vez que ela rege a sinfonia – uma das especialidades de seu mestre Leonard Bernstein – com a Osesp. A primeira foi em 2011, quando ela acabara de ser anunciada regente titular do grupo. Desta vez, no entanto, a interpretação faz parte de um ciclo dedicado às sinfonias do compositor.

Voltar à peça é, de certa forma, uma oportunidade de rever os últimos anos de Alsop com a Osesp. “O grupo evoluiu bastante, há uma riqueza maior na paleta sonora com a qual trabalhamos, em especial no que diz respeito à obra de Mahler, da busca por um equilíbrio sonoro”, diz ela, após o ensaio na manhã dessa quarta-feira, 26, na Sala São Paulo. “Temos hoje à nossa disposição um vocabulário mais amplo de dinâmicas. E a orquestra tem consciência disso. Posso pedir algo para eles e a reação sonora é imediata. E, em uma peça como essa sinfonia, fica particularmente clara a força do conjunto, a atenção às sutilezas e a necessidade de ouvirmos uns aos outros.”

Trabalhar a sonoridade da orquestra parece ser o objetivo do ano, atendendo até mesmo aos pedidos de alguns músicos que, nas últimas temporadas, reivindicavam mais tempo para mergulhar em alguns programas e repertórios com mais profundidade. Quando a temporada 2015 foi anunciada, no ano passado, Alsop falou em “ficar em casa e buscar um novo patamar de execuções”. “Os artistas estão famintos por novas experiências artísticas, refinando nossas interpretações”, disse na ocasião ao jornal O Estado de S.Paulo.

O caminho, na temporada que começa agora, gira em torno de alguns ciclos, que dominam a programação e seguem de um ano para outro. Além do Mahler, há as sinfonias de Villa-Lobos e Prokofiev, que estão sendo gravadas por Isaac Karabtchevsky e Alsop, respectivamente; e concertos dedicados a Strauss, Schoenberg, Scriabin, Sibelius, Nielsen e Brahms, de quem a maestrina rege as quatro sinfonias.

“Se quer fazer com que os músicos se percebam imersos em um estilo, período ou compositor, ciclos são uma proposta interessante”, diz Alsop. “O mais importante, no entanto, é que com o tempo o grupo se torne cada vez mais capaz de trocar de marchas, de um estilo para outro, respeitando as especificidades de cada repertório”, completa. Ela acredita que o papel de Brahms é fundamental. “As transparências dessas obras são um desafio na construção de uma orquestra. Em Mahler, você pode arrombar as portas com sua força sonora, mas Brahms exige outro tipo de abordagem.”

Alsop volta a comandar a Osesp na semana que vem, dos dias 5 a 7, com as Valsas de Prokofiev; o Concerto n.º 20 de Mozart (com solos do pianista David Fray) e a Sinfonia n.º 6 de Tchaikovsky. E a maestrina aproveitou o Dia das Mulheres para, além dos concertos, propor uma reflexão sobre “a presença feminina em espaços e profissões dominadas pelos homens”. “É uma questão natural para mim e espero poder chamar atenção para essa discussão. Mesmo em uma orquestra como a Osesp, ainda que haja muitas mulheres, elas estão longe de ser metade dos músicos.”

No dia 5, dentro da série Música na Cabeça, Alsop vai conversar sobre o tema com a antropóloga Laura Montinha, da USP. A orquestra também prepara uma série de vídeos com depoimentos de mulheres que trabalham na Fundação Osesp. E, no palco, Alsop convidou para abrir os concertos a maestrina italiana Valentia Peleggi, que foi sua aluna no Festival de Campos do Jordão no ano passado. Ela vai reger a Fanfarra para uma Mulher Incomum n.º 2, da compositora norte-americana Joan Tower.

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