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Biografia crítica da extensa obra de Philip Roth é lançada

“Ela estava tão profundamente entranhada em minha consciência”, diz Alexander Portnoy, “que, no primeiro ano da escola, eu tinha a impressão de que todas as professoras eram minha mãe disfarçada”. É assim que começa O Complexo de Portnoy, romance que Philip Roth publicou em fevereiro de 1969 – então seu quarto livro, as 200 páginas que o lançaram, para sempre, ao coração de leitores, às listas de melhores autores do século, à boca e à caneta dos críticos e às rodas de discussão mais apaixonadas quando o assunto é religião, sexo e literatura.

É a história deste e dos outros 30 livros que Roth publicou entre 1959 e 2010 que Claudia Roth Pierpont, escritora da revista The New Yorker, conta em Roth Libertado – O Escritor e Seus Livros, livro de 2013 que a Companhia das Letras lança por aqui.

Pierpont analisa com um misto de afeto e distanciamento crítico cada obra desde Adeus, Columbus – que um jovem Roth lançou aos 27 anos para ganhar o National Book Award – até Nêmesis, comovente história sobre uma epidemia fictícia de pólio, em 2010, relacionando a produção dos livros a aspectos da vida do autor, pinçando trechos das principais críticas, citando outras obras e, especialmente, dando aspas do escritor, retiradas de conversas e entrevistas com Roth que a autora fez para a produção de Roth Libertado.

“Ele escreveu 31 livros, e uma das coisas que considero extraordinárias é quantos deles são de primeira grandeza”, afirma Roth Pierpont ao jornal O Estado de S.Paulo, por telefone, de Nova York. “Um grande escritor tem geralmente dois ou três livros que são maravilhosos, mas com Philip Roth, você pergunta para seis ou sete pessoas qual seu livro favorito, e as respostas são todas diferentes.”

Ela tem razão: além das investidas arrojadas de um jovem escritor ainda em formação, como Adeus, Columbus e Portnoy, a produção de Roth entre os anos 1980 e 2000 é um verdadeiro compilado de “obras-primas”, nas palavras de Pierpont: O Avesso da Vida, Operação Shylock, A Marca Humana, e muito especialmente, O Teatro de Sabbath e Pastoral Americana.

Mas como um leitor reage, em 2015, a um livro engraçado e pornográfico (docemente pornográfico), publicado há 46 anos, como O Complexo de Portnoy? “É porque nós vivemos em culturas em que muitas pessoas são outsiders, excluídas, isso cria empatia”, explica Pierpont, comentando que boa parte da trama trata de um garoto de 14 anos descobrindo a sexualidade, vetor universal. “Além disso, é tão divertido”, ri – o fato de ele começar um dos capítulos de Portnoy chamado Melancolia Judaica com uma frase como “Quando eu tinha 9 anos, um dos meus testículos se cansou de viver dentro do escroto e resolveu migrar para o norte” pode dar uma ideia da situação.

Apesar da amizade com Roth, Pierpont, professora de jornalismo criativo em Columbia, Ph.D. em história da arte, critica duramente livros que ela considera menores na carreira de Roth, como Casei Com Um Comunista (“creio não haver outro livro de Roth em que as vozes sejam mais tênues ou menos cativantes”) ou The Great American Novel (“para muitos parece uma estonteante barafunda”).

Outros aspectos do livro merecem destaque: a autora traça uma estreita relação entre a produção literária e a vida amorosa do escritor (com Margaret Williams, que o enganou com um teste falso de gravidez, e Claire Bloom, cujo livro de memórias é uma espécie de banquete para as feministas críticas ao autor).

Um capítulo é dedicado ao período nos anos 1970 em que Roth empreende viagens a Europa, especialmente Praga, onde conhece escritores como Milan Kundera e Ivan Klíma, que ele passa a admirar e publica nos EUA em uma série chamada Escritores de Outra Europa. “Significou muito para ele, foi logo após Portnoy, fase em que ele tentava afastar uma estreiteza da sua obra – queria encontrar mais significado na vida, e foi lá que ele encontrou”, explica Pierpont.

No último capítulo, a autora conta histórias sobre o livro. Um dos trechos diz: “Roth tem sofrido muita dor nas costas nos últimos anos e deve se submeter a uma grande cirurgia. (…) especulo que, quando se recuperar, estiver livre de dor e retornar a Connecticut, talvez ainda escreva mais um romance. Ele suspira e acrescenta: Espero que não”. O resto do mundo espera que sim. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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