Ela já usou outros alter egos, como Electra Heart, título de seu segundo disco. Já foi uma promessa pop, e podia ter se tornado uma espécie de Britney, Gwen Stefani ou Lana del Rey. Mas, repentinamente, foi adotada como uma nova darling indie – tanto que é um dos shows principais do festival Lollapalooza, no dia 28, sábado. O que mudou tanto na carreira da cantora e compositora Marina Lambrini Diamandis?
Nascida na pequena Abergavenny, cidade de 14 mil habitantes no País de Gales, filha de pai grego, ela deu uma guinada no seu som para um pop mais, digamos, denso, marca de seu álbum mais recente, “Froot”, lançado oficialmente este mês. Um toque certo de intensidade e sofrimento, uns temas mais adultos (a sua canção “Savages” fala de estupro e violência sexual), e Marina finalmente começou a desfrutar da celebridade (algo impensável há uns quatro anos). Ela não é uma newcomer: já tem 29 anos e ralou bastante para chegar à confortável situação de hoje.
“Acho que o pop é uma música popular, é algo que tem a capacidade, como veículo, de expressar boas ideias, de atrair muita gente”, ela disse, em entrevista por telefone à reportagem. “Mas o que eu tenho ouvido, em geral, é porcaria, muita facilidade. Eu busquei enfatizar a questão do significado nas canções”, afirmou.
Marina diz que hoje está mais para Annie Lennox (“Amo, é algo muito inspirado e muito relevante”) do que para Madonna. Uma de suas influências confessas, na atualidade, é Kate Bush (“Tem uma presença sofisticada, tem significado, é provocadora”, define).
No entanto, pelo menos uma coisa a aproximou recentemente de Madonna: ela passou por um percalço parecido ao da Rainha do Pop dois meses atrás, quando seu disco mais recente foi hackeado e disseminado na internet meses antes do lançamento oficial. Ela ficou fula, mas não tanto quando a Material Girl.
“É uma época interessante. A gente pode navegar pela internet e descobrir coisas que jamais descobriríamos em outros tempos. Eu fiquei muito desapontada com o vazamento do meu álbum, mas você tem que aceitar o que está acontecendo como uma mudança tecnológica típica do nosso tempo moderno. Nada é perfeito”, comenta.
Bem-humorada, rápida nas brincadeiras (o humor negro que transparece no novo disco é autêntico) e sem nenhum pingo de estrelismo, a cantora chega ao País em seu mais luminoso momento no show biz. “Sei que o Brasil é um país culturalmente muito rico, e quero aproveitar essa turnê para buscar inspiração para algo novo. Não sabia que havia tanta expectativa para o meu show, mas o que eu quero é apresentar o meu show da forma mais honesta e autêntica possível. Tenho uma irmã que conhece o Brasil, que fala espanhol e que me deu algumas dicas”, disse.
A família de Marina vive em Atenas, na Grécia, ela sempre viveu entre dois mundos. A cantora chegou a comentar brevemente a crise econômica no país de seus pais. “Não sou uma pessoa muito política, pelo contrário. Mas o que eles vivem lá é uma confusão, é uma situação muito complexa. É algo que é ruim para a vida das pessoas, pois não permite muito planejamento”, pondera.
Na época do lançamento do seu segundo disco, ela declarou: “Às vezes, eu me sinto como um pôster perfeito da nossa geração: a gente não sabe de nada. Nada sobre política ou sobre o mundo real. Eu tenho déficit de atenção, não consigo me concentrar em nada. É terrível, é um jeito horrível de ser. Mas eu ter me dado conta disso foi o que deu combustível para muitas das minhas canções”.
Ela parece gostar de se colocar contra as expectativas. Electra Heart era seu disco “conceitual”, cheio de temas conjugados e frases feitas. Agora, ela desafia até a própria imagem que construiu para si (e que disse ao jornal The Guardian ter matado com overdose de pílulas contra insônia). “Do you really want me to write a feminist anthem/ When Im happy cooking dinner in a kitchen for my husband” (Você quer mesmo que eu escreva um hino feminista/Quando na verdade eu estou feliz fazendo o jantar na cozinha para o meu marido), diz a letra de “Cant Me Pin Down”. Marina não é casada.
Como o foram em tempos recentes as performances da britânica Lily Allen ou da neozelandesa Lorde, Marina parece ter descoberto um jeito de deflagrar uma pequena rebelião silenciosa – na internet, seus fãs são os mais fiéis e determinados, e acompanham cada um de seus passos em direção ao Autódromo de Interlagos.
RIOT GIRLS DO POP
Katy Perry
Entre as garotas que provocam da atualidade, é a que mais se destaca com canções que alfinetam o namorado metrossexual e festejam beijo em outra menina
Lily Allen
O estilo desbocado e o próprio ritmo de vida de Lily a tornaram uma inspiração da rebeldia de classe média no mundo pop
Lorde
Sua esquisita inadequação e as canções sofridas geraram um exército de seguidoras e imitadoras pelo mundo
LOLLAPALOOZA
Autódromo de Interlagos. Av. Senador Teotônio Vilela, 261. Sáb. (28), a partir de 12 h; dom. (29), a partir de 11 h. R$ 340 (ingresso para um dia)/ R$ 1.460 (lounge dois dias)