Variedades

Cantor uruguaio Jorge Drexler inicia turnê pelo Brasil

De cima do palco, sentado num banco e com o violão na mão, Jorge Drexler canta há mais de dez anos os versos “nós músicos não dançamos, você já deve ter ouvido falar”, de Don de Fluir. Após lançar o disco Bailar en la Cueva, em 2014, cujo título remete à dança, a situação é outra. E ele planeja demonstrar isso nas apresentações da curta turnê brasileira, que inicia por São Paulo, na quinta, no Teatro Bradesco, com ingressos esgotados.

“O show começa com uma coreografia. Todos nós músicos dançamos. Não quer dizer que dançamos mal, mas com muita entrega””, diverte-se o uruguaio, que exibiu o rebolado no divertido clipe de Universos Paralelos. “É da mesma coreógrafa”, avisa ainda.

Depois de quase 80 apresentações pelo mundo, ele conta que a banda está craque nos passinhos. “O movimento é uma das atividades mais elevadas do ser humano. Dançar é uma das atividades que utiliza mais áreas do cérebro, do ponto de vista neurofisiológico”, atesta ele, formado em medicina.

“Já faz 45 mil anos que produzimos música e só 10 mil de literatura, digo, algo escrito”, compara, interrompendo a conversa com o jornal O Estado de S.Paulo por Skype. “Vou mudar meu status para que ninguém nos atrapalhe. Pronto. Estou invisível, mas estou aqui”, brinca, ajeitando os fones de ouvido.

A nova atitude no palco é reflexo da mudança nas composições. Bailar en la Cueva tem melodias mais alegres que os outros CDs. “É um disco diferente e contraditório em relação a algumas canções e épocas minhas”, analisa. “Fico feliz por mudar. Não estou orgulhoso por não ter dançado desde sempre. Fui criado numa ditadura, é uma característica. Estou encantando em dizer que essa ideia caducou. Tem coisas na vida que precisam caducar.”

A fase animada chamou a atenção de seus admiradores. “Muita gente me perguntava por que optar por uma música mais leve quando você se dá muito bem com a palavra?. Espero que leve seja um elogio. Não quer ser um pesado.”

Drexler acredita ter passado por uma transformação. “Mudei de opinião. Acredito que a mudança é uma virtude. Sou um admirador das pessoas que mudam. Meu grande mestre é o Caetano Veloso, mestre em buscar sempre algo novo, difícil, que faça você sentir que está abrindo um caminho.”

O baiano, com quem gravou a faixa Bolívia, é incógnita nos shows que ocorrerão por aqui, em Porto Alegre, na sexta, 27, e em Curitiba, no domingo, 29. “Adoraria, pois nunca cantamos juntos no palco. É um sonho. Vamos ver se tenho sorte”, torce o cantor, que tampouco dividiu o microfone com o ídolo.

Os dois se encontraram em Bogotá durante show de Caetano e, em um jantar, alguém sugeriu uma parceria. Apesar de surgirem juntos na música, Caetano gravou separadamente, no Rio. “Ele falou que foi difícil cantar. Não parece. Bolívia está escrita com um monte de técnicas que roubei dele. Foi feita em seu estilo. Ele nos ensinou a integrar o dramatismo dos textos com o poder contemporâneo da música.”

Hermanos

A conexão com a música brasileira começou em família, pois sua mãe tem ascendência tupiniquim. “Na minha casa, escutava-se muito Chico Buarque, pois era uma casa muito política. Era a pessoa que admiravam no Uruguai de esquerda”, explica o artista, que já gravou uma versão em espalho de O Que Será?.

Embora já tenha estado na presença de Chico, não perguntou o que o colega achou. “Sou tão fã que fiquei calado. Não sei quanto ele conhece da minha música, mas conheço bastante a dele. O disco Eco (2004) foi baseado em Futuros Amantes.”

Em breve, ele revisitará a obra do carioca. “Estamos preparando uma versão de Construção para uma turnê de música eletrônica que farei com Luciano Supervielle, do Bajofondo, em maio. Começa no Chile, mas queremos ir aí”, adianta. “O Brasil é uma sociedade que tem tendência a dançar. Isso é novo na sociedade uruguaia. O macho rio-platense tem pudor da própria sensualidade. Estou combatendo isso”, confessa.

Antes de fazer multidões repetirem seus versos, Jorge Drexler trabalhou com pacientes surdos, nos tempos da faculdade. “Sempre tentei estudar medicina do ponto de vista poético. Nunca me ocorreu separar a audição como fisiologia da música. Pensava que isso não servia para as minhas músicas. Depois, percebi que faz parte delas.”

Em 2005, o uruguaio ganhou um Oscar pela trilha de Diários de Motocicleta.
Porém, a Academia não permitiu que se apresentasse, como os outros concorrentes. Este ano, em que o mexicano Alejandro Iñárritu ganhou o prêmio de melhor diretor por Birdman e discursou sobre o tratamento dos imigrantes nos Estados Unidos, o cantor vê a força dos latinos na indústria do entretenimento global.

“A relação da cultura latina com os EUA se insere no aumento do poder do idioma espanhol lá, o maior difusor de cultura do mundo. A comunidade latina não é só uma de serviços, ela gera a própria cultura. Netos dos imigrantes estão orgulhosos de sua cultura que tem alto nível”, acrescenta. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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