Vinte anos atrás, com seu som cheio de névoa e imagens, o músico britânico Adrian Thaws, mais conhecido como Tricky, mudou a face da música da época com uma mistura ultrapessoal de hip-hop, soul, dub, rock e eletrônica.
Com um novo disco nas lojas, o primeiro que leva seu nome de batismo, Adrian Thaws, Tricky (que despontou na música como integrante do Massive Attack) volta ao Brasil para o Nublu Jazz Festival, no qual toca no domingo, 29, no Sesc Pompeia, às 19h. Traz até uma novidade insólita: ele acaba de gravar uma música com a brasileira Mallu Magalhães, Something in the Way. “Amo a voz dela. Adoraria gravar com ela num projeto de maior fôlego”, afirmou o músico, em papo com o jornal O Estado de S.Paulo por e-mail.
O último disco de Tricky foi Mixed Race (2011, selo Lab344), que parecia mais jazzístico. O novo trabalho é nervoso, mais cru. Tricky discorda. “É só mais um disco, e é mais urbano. Eu não diria que os outros eram mais jazzy, eu não faço nada jazzy. É um álbum duro, um álbum de gueto, de certa forma. Sabe, quando eu ouço hip-hop, eu não ouço pop. Eu não ouço 50 Cent. Eu ouço o hip-hop do underground, ou o hip-hop mais hardcore. Nunca fui muito chegado em pop. Por isso, Adrian Thaws é um álbum pauleira, do tipo que não vai tocar em rádio, eu sabia disso quando o fiz. Não vai tocar no rádio porque é um disco duro. Não há compromisso. E é mais duro que álbuns anteriores, mas não tão sombrio quanto Angels ou Pre-Millennium.”
Tricky não sofre do mal da falsa modéstia. Olhando retrospectivamente, ele diz que não mudaria nem uma vírgula no disco com o qual mudou a cena britânica, Maxinquaye, 1995 (o título é alusão ao nome de solteira da mãe do artista). “A única coisa engraçada é que eu vejo uns caras novos na cena que, se não fosse por Maxinquaye, eles estariam fazendo ainda a mesma coisa, fariam reggae, rock, hip-hop. Nada diferente. Então, aquele disco mudou a música. Mas esses caras novos, que foram influenciados por ele, eles nem mesmo sabem de onde vem a sua influência. Alguns caras novos não conhecem a própria história. Você sabe, é meio esquisito às vezes quando eu estou em turnê e vejo uma banda ou ouço algo que conheço e que soa como eu mesmo. Mas aquela banda provavelmente não tem a menor pista de como eles estão soando. De qualquer maneira, eu não mudaria nada naquele disco.”
Em Adrian Thaws, ele tem colaborações com Bella Gotti, Francesca Belmonte, Nneka, Mykki Blanco, Tirzah, Blue Daisy e Oh Land. A música vem rasgando e de repente, lá no meião, aparece uma plácida versão de um rocknroll original de Janet Kay, Silly Games. “Não é um oásis nem nada disso” no meio da tempestade, ele salienta: é só o estilo Tricky.
O músico passou um tempo vivendo em Paris e suas impressões são as seguintes. “Sempre é duro para certo tipo de pessoas, como os árabes e africanos. Não conseguem trabalho, e os parisienses de classe média alta são muito esnobes, muito, muito esnobes, e é um dinheiro muito, muito antigo. Esses caras vivem nos subúrbios de Paris, e não conseguem frequentar clubes, é difícil para eles.
E é assim em todo lugar. O dinheiro antigo protege a si mesmo. Encontrei gente lá que nunca sai de suas zonas de conforto, nunca foram ao gueto. Frequentam seus restaurantes, seus clubes, seus bares e não abandonam seus holofotes.”
Ex-namorado da cantora Björk, ele foi citado por ela em um entrevista recente como sendo o único caso de um colaborador musical com o qual se envolveu afetivamente – devido ao fato, analisou Björk, de que é um meio muito machista, que sobrepuja as garotas. “É uma indústria chauvinista, especialmente na Inglaterra, que não costumava dar espaço para repertórios femininos. Há mais hoje, mas não havia nenhuma quando eu comecei, assim como não havia agentes mulheres. Conheci uma garota, Emilly Taylor, que tentava ser uma agente, e um cara disse pra ela: Não fique chateada, mas você não pode ir ao futebol, não há tickets de temporada pra você. É definitivamente um mundo dominado pelos machos”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.