No princípio – ou no fim, quase tudo é branco. É o pensamento que podemos ter ao entrar na exposição que apresenta a última fase de pinturas de Tomie Ohtake (1913-2015), a ser inaugurada nesta quarta-feira, 1º, para convidados e quinta, 2, para o público no instituto que leva seu nome, em São Paulo. Uma série de telas monocromáticas, todas brancas e datadas de 2014, recebe os visitantes como uma “provocação”, diz o curador Paulo Miyada – é preciso olhá-las de perto para descobrir as texturas que a artista realizou nessas composições. Através de relevos muito sutis, concebidos nas telas com o uso da própria tinta acrílica, Tomie, que morreu em 12 de fevereiro, aos 101 anos, estava a experimentar formas e sombras.
A mostra traz, praticamente, todas as pinturas que a artista realizou no ano passado, um conjunto expressivo de quase 30 telas. “Ela começou a série a partir do desafio máximo de não usar a cor”, afirma Paulo Miyada. Já seria um grande feito “conquistar desenhos”, explica o curador, através do branco chapado – como contornos que remetem a quadrados, círculos e linhas implícitos nas composições. Mas como a mostra Tomie Ohtake 100-101 reflete a verve de uma das principais criadoras da arte brasileira, o espectador vai surpreender-se, ainda, com as obras nas quais a artista lançou-se ao amarelo, vermelho, azul e, por último, ao verde.
“Parece que, em cada uma de suas fases, Tomie trata a cor, a matéria ou o gesto como elemento protagonista que puxa os outros”, considera Miyada.
Coordenador do Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake, que também preparou a mostra E se Quebrarem as Lentes Empoeiradas?, a ser inaugurada nesta quarta ele acredita que as pinturas mais especiais da série da artista sejam as que trazem relevos mais sutis. Nas obras com cores, considera, as composições tornam-se, por ora, “mais dramáticas” – principalmente, aponta, em uma das telas vermelhas.
Tomie, conta Paulo Miyada, queria opiniões sinceras sobre a série que estava criando quando era visitada em seu ateliê. Questionava a pintura, até as últimas criações – e este não é um clichê, como se pode ver na exposição. O relevo que criou nessas telas são, às vezes, quase táteis, vibrantes texturas. E, mais ainda, em alguns dos trabalhos, como nos azuis, Tomie fala de uma luminosidade que vem de trás – uma sequência, portanto, de pesquisa que ela vinha produzindo desde 2013.
A mostra, ainda, apresenta um belo conjunto de esculturas tubulares brancas da artista. Presas às paredes ou abrigadas no chão, essas peças, mais antigas, remetem a uma pureza do gesto de Tomie. Ao lado dessas obras, um vídeo traz depoimentos de criadores de diversas gerações – entre eles, Carmela Gross e Leda Catunda -, que falam da admiração pela pintora e escultora. Para a apresentação da vasta trajetória da criadora, Paulo Miyada tomou como partido poético contá-la por meio textos de parede que são como cartas escritas a Tomie. Como se ela não tivesse nos deixado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.