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Duo Assad festeja 50 anos com álbum novo e turnê pelo Brasil

Jacob do Bandolim ficou intrigado. Eram meninos pequenos e franzinos demais, 12 e 8 anos, protegidos pelo pai, dois moleques nos bastidores da TV Record fazendo sabe-se lá o quê. “Se eles tocarem bem mesmo como estão dizendo por aí, eles tocam comigo”, desafiou Jacob. E lá foram Sérgio e Odair Assad para seu primeiro grande teste, há 50 anos, diante de um rigoroso mestre do choro, de poucas palavras, que se ajeitou repentinamente para ouvi-los.

Era 1965 e faltava pouco tempo para Jacob entrar no palco do programa “Bossaudade”, apresentado por Elizeth Cardoso e Ciro Monteiro. Os meninos tocaram como possuídos e Jacob se convenceu no ato, inaugurando assim a carreira de dois garotos que seguiriam juntos, ao menos, pelos próximos 50 anos.

Sérgio e Odair Assad são hoje considerados uma das principais duplas no violão erudito do mundo. Estão comemorando cinco décadas de estrada, iniciada no dia em que se encontraram com Jacob, com uma turnê brasileira que vai passar por 14 cidades e um disco novo. “Nós temos o áudio desta gravação que fizemos com Jacob, que nunca lançamos”, diz Sérgio. O concerto em São Paulo é nesta quarta-feira, 8, no Teatro Alfa, às 21 horas.

O álbum que lançam, chamado “O Clássico Violão Popular Brasileiro”, é uma implosão dos tijolos que ainda poderiam separar dois mundos das seis cordas. A coleção de temas é historicamente popular, mas chegam com a inevitável mão sofisticada e erudita dos irmãos. Apesar do respeito às formas, harmonias e arranjos aparecem modificados. “Eu nunca vi diferença alguma entre clássico e popular. Nós nunca fizemos essa separação. E, se no mundo erudito ela já aparece diluída, no violão essa falta de fronteira é ainda mais evidente. Ouça Dilermando Reis, ele gravava coisas do Tárrega (Francisco Tárrega, violonista romântico espanhol).”

O repertório sai de João Pernambuco, depois de uma abertura quase atonal para “Interrogando”, e termina em “Palhaço”, de Egberto Gismonti. “Podemos afirmar com certeza que os primeiros dois grandes nomes do violão brasileiro foram Américo Jacomino, mais conhecido como Canhoto, e João Teixeira Guimarães, mais conhecido como João Pernambuco”, escrevem os irmãos em um encarte de disco. Uma das grandes obras do violão clássico brasileiro é de Canhoto, Abismo de Rosas. Ela ganha contrapontos em dois violões, como muitos outros temas, e é levada para um clima jazzístico, sem que haja nenhuma distância maior das intenções originais. É construída no alicerce erudito e fica extremamente popular.

De Baden Powell, o tema é “Tempo Feliz”, um samba que ganha outro contexto, outro entendimento. Dois violões que se falam o tempo todo sem que nenhum marque o ritmo ou faça o que os chorões chamam de baixaria, com frases rápidas nas cordas graves do instrumento. Elas até aparecem, mas estão ali de passagem, não com uma função rítmica. Sérgio aproveita para falar de Baden. “Ele apareceu e reinventou o violão, deu uma nova orientação para o instrumento. De sua linhagem, sairiam depois Raphael Rabello e, mais tarde, Yamandú Costa.”

Outros nomes que migram de uma fronteira a outra no disco são Villa-Lobos (“Choro n.º 5” e “Alma Brasileira”), Maurício Carrilho (“Saudosa”), Paulo Bellinati (“Jongo”) e Radamés Gnatalli (“Uma Rosa para Pixinguinha”), além do próprio propulsor da dupla, o compositor Sergio Assad (com “Maracaípe”).

Se eles não sentem um distanciamento das plateias brasileiras, embora os músicos o reverenciem como nomes consagrados? Sérgio responde: “Nós poderíamos ter lutado mais por aqui, mas fizemos a escolha e trilhamos o caminho fora do Brasil. Não há nenhum ressentimento”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

DUO ASSAD
Teatro Alfa. Rua Bento Branco de Andrade Filho, 722. Santo Amaro. Telefone: 5693.4000. Quarta, às 21 h. R$ 20 a R$ 80.

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