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Morte de Roberto Talma acelera o fim de uma era

A morte de Roberto Talma, na madrugada desta quinta-feira, 23, no Rio, aos 65 anos, acelera o fim de uma era em que a televisão era o meio absoluto, quase único, de entretenimento, em mais de 90% dos lares brasileiros. Internado desde 2 de março passado no hospital Samaritano do Rio, Talma sofria de insuficiência renal crônica e doença arterial coronariana. Novela, show, novela e mais show fazem do currículo do diretor um almanaque da diversão eletrônica da era pré-internet, pré-mobile e até pré-controle remoto.

Não que ele estivesse afastado do mundo nas duas últimas décadas, longe disso. O pico de sua produção, no entanto, se concentra entre os anos 1970 e 2000, com passagens por várias emissoras de TV, idas e vindas constantes para a TV Globo, que concentra a maior parte de sua obra e os trabalhos mais relevantes. Ao lado de Paulo Ubiratan (morto em 1998), Talma assinou a direção de novelas como Pai Herói, de Janete Clair, Água Viva (1980), de Gilberto Braga, Coração Alado (1980), de Janete Clair; Baila Comigo (1981), de Manoel Carlos, Jogo da Vida (1981), de Silvio de Abreu, Sétimo Sentido (1982), de Janete Clair, e Sol de Verão (1982), de Manoel Carlos.

Nascido em 29 de abril de 1949, em São Paulo, Roberto Talma Vieira completaria 66 anos na próxima quarta-feira. Profissional pertencente a uma safra que aprendeu a fazer TV dentro do próprio set, passando por todas as etapas do processo de produção, Talma foi criado dentro do meio artístico. Seus pais eram donos de um circo no interior de São Paulo. A mãe era bailarina e o pai trabalhou na televisão como coordenador de programação da TV Rio. Aos 9 anos, ele já estava na TV Record dos Machado de Carvalho, onde se apresentava com um grupo de sapateado no programa A Grande Gincana Kibon.

No início da década de 1960, mudou-se com a família para o Rio, trabalhou durante algum tempo na TV Rio, passando também pela TV Excelsior e pela TV Tupi, até ser contratado pela Globo, no dia 1º de abril de 1969. Nessa época, além do trabalho na televisão, Talma também fazia incursões na música e no teatro, apresentando-se com um conjunto musical e atuando em algumas peças.

Na Globo, começou como operador de videoteipe, participando do núcleo de jornalismo da emissora. Trabalhou para o Jornal Nacional, Hoje, Jornal da Globo e fez parte da primeira equipe do Fantástico, em 1973, e editou programas como Globo Repórter e Globo de Ouro.

Já no ano seguinte, Talma se juntaria ao núcleo de dramaturgia para trabalhar com a equipe de Selva de Pedra (1972), de Janete Clair, dirigida por Walter Avancini. Até os anos 1980, atuou neste núcleo e na produção de shows no Fantástico, tendo passado também pela TV Tupi e pela Bandeirantes.

Ao voltar para a Globo, assumiu o cargo de diretor executivo da Central Globo de Produção e assinou a criação de diversos seriados, além de várias novelas. Na década de 1990, foi responsável pela implantação e supervisão de diversos Casos Especiais e episódios do interativo Você Decide (1992), além do humorístico Casseta e Planeta, Urgente! (1994), sem falar na criação de Malhação (1995), a novela teen que agora completa 20 anos. O folhetim Renascer de Benedito Ruy Barbosa, que trazia a aposta ousada da temática rural com uma grande volume de cenas externas, também contou com sua colaboração e resultou em uma das mais belas produções que a TV brasileira já realizou.

Em 1995, Talma deixou a Globo novamente, para se dedicar a projetos pessoais, que incluía a criação de uma produtora independente. Realizou novelas para o SBT e voltou quatro anos depois, quando assumiu o núcleo de programas infantis da Central Globo de Produção. Sob sua responsabilidade também estiveram diversos programas de outras linhas da emissora, como o Domingão do Faustão, o Fantástico e o programa Linha Direta, criado em 1999. De 1998 a 2010, assinou a direção geral dos especiais de fim de ano do cantor Roberto Carlos.

Nos últimos anos continuou com uma atuação intensa nos programas da emissora, como a direção de núcleo da releitura de Gabriela em 2012 e, em 2013, do seriado Pé na Cova. Ainda em 2013, produziu o filme Dores de Amores, com direção de Raphael Vieira.

Velório

A Globo informou que o velório será no sábado, a partir das 11h, no Memorial do Carmo, no Caju, Rio de Janeiro. A cremação ocorrerá no mesmo dia, às 15h, em cerimônia reservada à família. Roberto Talma deixa três filhos: Raphael Bethlem Vieira, de seu casamento com a atriz Maria Zilda Bethlem, Stephan Borges Vieira e Matheus Faloppa Vieira.

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