Variedades

Grupo Galpão lança caixa com 10 diários de seus processos de criação

Além de boas peças de teatro, o encontro do encenador Gabriel Villela com os atores do mineiro Grupo Galpão rendeu um hábito saudável: o de registrar, em um diário, o que ocorreu nos processos de criação de seus espetáculos. Parte desses escritos – alguns assinados por Cacá Brandão, outros por Eduardo Moreira – foi editada em um box com dez livros. Os volumes ganham cerimônia de lançamento na quinta-feira, no Itaú Cultural, em São Paulo, com uma mesa redonda com a presença de Brandão, Moreira e Romulo Avelar.

Programado para ser lançado nas comemorações de 30 anos do coletivo, em 2012, o box chega ao público com um pequeno atraso. Junto a ele, outros produtos também são lançados: dois volumes sobre a história do Galpão Cine Horto (o centro cultural do grupo, em Belo Horizonte), DVDs com os espetáculos Os Gigantes da Montanha e Romeu e Julieta, e um CD com a trilha dOs Gigantes… e de Till, A Saga de um Herói Torto.

“Pode parecer cabotinismo, mas sabíamos que estávamos fazendo algo que merecia ser registrado”, diz Moreira sobre as atividades do grupo. As anotações começaram depois de uma sugestão de Villela no início do processo de criação de Romeu e Julieta, montagem que estreou em 1992, quando o coletivo já tinha completado uma década. Brandão foi quem começou a fazer os registros, seguido por Moreira.

O início da prática de escrever os diários veio em um momento oportuno, já que foi justamente Romeu e Julieta – uma grande explosão, como define Moreira – que impulsionou o grupo, rendendo prêmios e visibilidade internacional, com temporadas no teatro inglês Shakespeares Globe Theatre, além de passagem por outros países da Europa e da América Latina.

Os textos narram os preparos para a montagem desde o início, quando Villela jantou com os atores do Galpão para conversar sobre as possibilidades de um projeto – entre elas, a ideia de encenar A Paixão de Cristo na rua. Outras passagens citam o rigor de Villela que fazia os atores suarem frio, as hemorroidas do diretor e as pesquisas em livros que abordam a obra de Shakespeare.

Remontado em 2012 com figurinos originais e elenco quase original (apenas um ator foi trocado), Romeu e Julieta ganhou o registro em DVD. Nos extras, o documentário Flor, Minha Flor mostra pessoas que estiveram na estreia da montagem e voltaram, em 2012, para contar como foi a ocasião.

Espetáculos como A Rua da Amargura (1994), Um Molière Imaginário (1997), Um Homem É um Homem (2005) e Tio Vânia (2011), entre outros, também ganham registros em diário, em um arco que se fecha com Os Gigantes da Montanha (2013), penúltima estreia do Galpão, também dirigido por Villela.

Com o hábito de trabalhar com encenadores convidados, o Galpão dedicou um dos livros a um diretor: Encontro com Paulo José. “Somos de uma geração de teatro que começa na década de 1980, muito influenciada pela ditadura militar”, diz Moreira. “Foi um vácuo cultural muito forte no Brasil, a ditadura desmoralizou a palavra. E o Paulo traz a herança da palavra no teatro”, analisa, destacando que o diretor é um marco no trabalho do Galpão que, se antes tinha seu trabalho radicalmente baseado em corpo, passou a dar peso maior para a expressão oral.

Experiência

O grupo formado em 1982 após uma oficina com diretores do Teatro Livre de Munique (veja foto abaixo) nem imaginava, na época, que seu trabalho iria além do teatro. Foi em 1998 que a trupe inaugurou Galpão Cine Horto, um centro cultural que, hoje, tem salas de aula, cinema, espetáculos e o Centro de Pesquisa e Memória do Teatro.

A história do centro cultural é contada nos livros Galpão Cine Horto: Uma Experiência de Ação Cultural e Do Grupo Galpão ao Galpão Cine Horto: Uma Experiência de Gestão Cultural, que também serão lançados na quinta.

“Nossos trabalhos no Cine Horto respondem à nossa vontade de deixar algum legado concreto além das peças”, diz o diretor geral da instituição, Chico Pelúcio. Ele conta que a ideia dos livros é abrir os bastidores de forma honesta. “É um olhar crítico sobre a gestão: falamos do que deu certo e do que deu errado.” Sobre os aprendizados da experiência do Cine Horto, ele destaca a continuidade. “Amadurecimento requer tempo. É importante não interromper projetos.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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