Para um evento que criou o marketing de ser o Maracanã dos festivais, o 19.º Cine PE, que começa neste sábado, 2, no Recife, pode passar a impressão de uma marcha a ré. O Festival do Audiovisual deixa de se realizar no monumental Centro de Convenções de Olinda – metamorfoseado em Cine-Teatro Guararapes – e volta ao Cine São Luiz, no Centro do Recife, onde surgiu.
Criador e diretor do evento, Alfredo Bertini destaca a praticidade da decisão. “O dinheiro desapareceu do mercado. Estamos fazendo o festival deste ano com a maior contingência orçamentária de sua história. O Centro de Convenções saía sempre muito caro para a gente. Adaptar o espaço não saía barato. E o problema é que, há muito tempo, ele não lota mais, nem para shows de música. A volta para o São Luiz não é uma marcha a ré”, sentencia ele.
Com 900 lugares – pouco menos que a metade dos 2000 e poucos lugares que o Cine-Teatro Guararapes comportava, quando lotado -, o São Luiz vai abrigar a programação enxuta de 23 curtas e longas nacionais e estrangeiros. Apenas duas projeções serão em película. As demais serão digitalizadas, no equipamento locado pelo festival. O São Luiz já possui um sistema digital comprado pelo Estado, mas ele ainda não foi instalado. O primeiro fim de semana será movimentado. Neste sábado, ocorre – fora de concurso – a pré-estreia nacional de O Exótico Hotel Marigold 2, em presença do diretor inglês John Madden, de Shakespeare Apaixonado. No domingo, Lázaro Ramos, Alinne Moraes e o diretor Lula Buarque de Hollanda estarão presentes na gala de O Vendedor de Passados.
A seleção de sete longas e 16 curtas tem curadoria de Rodrigo Fonseca e Diogo Mendes. Hotel Marigold 2 deve agradar ao público que já gostou do 1. O diretor John Madden retoma basicamente os mesmos personagens, agora com o desafio de criar um segundo hotel (e resolver impasses amorosos). A novidade é a participação de Richard Gere como um personagem que gera dúvidas e incertezas. O astro paira sobre o filme com seu sorriso (e as cãs). O Vendedor de Passados baseia-se no romance do escritor angolano José Eduardo Agualusa e não se assemelha a nada que o espectador brasileiro tenha visto recentemente, e menos ainda no que se refere à produção nacional.
Lázaro Ramos cria passados para pessoas que contratam seus serviços. Surge a misteriosa Alinne, que lhe dá carta, mas impõe uma condição – na ficção que será sua vida, ela tem de ter cometido um crime. Nessa história de criar/recriar vidas, o diretor não deixa de refletir sobre o ilusionismo do próprio cinema (como Agualusa fez com a escrita). Alinne sempre foi uma bela mulher, mas nunca tão intensa quanto aqui. Lázaro também nunca foi tão viril, o que não impede seu personagem de se enredar na teia da mulher fatal.
Cinéfilo de carteirinha, Fonseca coloca na competição o longa português Cavalo Dinheiro, do cultuado Pedro Costa. Como destaques da produção local, o festival trará os curtas História Natural, do crítico Júlio Cavani, O Poeta Americano, de Lírio Ferreira, que trata da relação do poeta João Cabral de Melo Neto com o América Futebol Clube, e o documentário Bajado, de Marcelo Pinheiro, sobre o artista plástico de Olinda. Outro documentário pernambucano integra a competição de longas – Mães do Pina, de Leo Falcão. O encerramento, na sexta, dia 8, será com A Luneta do Tempo, de Alceu Valença, também fora de concurso.
Numa entrevista por telefone, Sandro Bertini antecipa dificuldades para todos os festivais brasileiros que operam com recursos públicos – e qual que não? – no Brasil, em 2015. “O controle dos gastos está sendo muito rígido, o que é bom para a transparência, mas impõe restrições.” Será um festival mais enxuto, com certeza, mas para ele o gigantismo do Cine PE cumpriu um ciclo em sua 15.ª edição – a última vez em que o Cine-Teatro Guararapes lotou (na homenagem a Pelé). “Hoje, existem 30 eventos de cinema em Pernambuco. O importante é que cada um encontre seu público, o seu segmento.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.