Variedades

Moraes Moreira e Davi Moraes lançam 1º disco juntos

Para o músico Davi Moraes, a parceria com o pai Moraes Moreira é literalmente de uma vida inteira. Hoje com 41 anos, ele nasceu no sítio Cantinho do Vovô, dos Novos Baianos, em Jacarepaguá, nos anos 1970, onde era embalado pelo som dos violões de Moraes e de Pepeu Gomes. Mais tarte, na carreira solo do pai, Davi lembra de ficar vidrado ao ver ele e Armandinho, que passou uma temporada morando na casa de sua família, tocando juntos. Aliás, essa é sua primeira memória musical.

Quando criança, Davi começou com o cavaquinho, que lhe cabia melhor nas pequenas mãos e, depois, se enveredou por outras cordas, como violão, bandolim e guitarra. Naturalmente, passou a fazer parte da banda de Moraes na adolescência – aos 12 anos, tocou com ele no Rock in Rio, em 1985. Nos discos de carreira, contou com a participação do pai – e ele próprio fez aparições em álbuns de Moraes. Mas foi com a turnê de 40 anos de Acabou Chorare, que durou mais de dois anos, e agora com o disco Nossa Parceria que Davi Moraes e Moraes Moreira assumem essa afinidade em pé de igualdade profissional e de atuação.

“Esse disco está registrando essa parceria, hoje, como sendo de dois artistas mesmo. Traz a gente cantando, mostrando o lado de compositor, arranjando as músicas juntos. Vem coroar essa parceria de vida que a gente tem, na estrada, de música, de estúdio, de trio elétrico, de show”, diz o multi-instrumentista Davi, sobre esse primeiro álbum em que assinam juntos, com dez faixas, incluindo oito inéditas.

Com produção de ambos, ao lado do experiente Chico Neves, Nossa Parceria diz muito sobre as influências e as referências musicais de Moraes pai que, inevitavelmente, respingaram em Moraes filho – em uma roupagem essencialmente acústica em que, apesar da presença da percussão, as cordas ganham generosa atenção. Fincado no eixo Rio-Salvador-Pernambuco, o novo trabalho envereda por uma diversidade rítmica, com avanços largos para o samba, o chorinho, o frevo e a bossa nova.

A bossa nova remete a João Gilberto, que já foi chamado por Moraes Moreira como “o produtor espiritual” do álbum histórico Acabou Chorare, de 1972. Nos anos 1970, quando João Gilberto voltou dos Estados Unidos, foi visitar a trupe dos Novos Baianos no sítio, a convite de Luiz Galvão, um dos fundadores do grupo e seu conterrâneo de Juazeiro, na Bahia.

“João Gilberto apareceu nos Novos Baianos e nos influenciou bastante, principalmente a mim. Davi seguiu essa influência: o samba dele, Centro da Saudade (que está no novo disco, parceria do filho com Carlinhos Brown e Pedro Baby), é bem bossa”, diz Moraes Moreira. A regravação do samba-canção Bahia Oi Bahia, de Vicente Paiva e Augusto Mesquita, lançado em 1940, também está ligada ao pai da bossa nova. “Aprendi com João Gilberto essa música, lembramos dela e a colocamos no disco”, completa Moraes.

Improviso

A faixa Bossa e Capoeira abre o disco Nossa Parceria dando conta dessa confluência de gêneros que é o álbum como um todo. “A moçada vai gostar/Quando eu der do meu samba uma prova/De ouvir no berimbau o balanço da bossa nova”, diz a música de Batatinha. “Essa canção foi escolhida por Davi, porque dei para ele um DVD do Batatinha. Ele conheceu a música, se apaixonou por ela e começou a fazer o arranjo”, conta Moraes. “O nome dessa música diz muito sobre o som desse disco. A gente até pensou em ser o nome do disco, mas achamos que Nossa Parceria traduziria melhor nosso encontro”, complementa Davi.

Mas o que desencadeou mesmo esse trabalho foram as primeiras músicas feitas em parceria entre Davi e Moraes, que, originalmente, teriam como destino um álbum de inéditas só de Davi. Entre elas, Quando Acaba o Carnaval, composta por ambos. “Fiz esse frevo com o tema saudade do carnaval, aí ele fez a letra”, diz Davi. As instrumentais Seu Chico e Chorinho Pra Noé eram mais antigas. Nelas, o estilo marcante de Moraes ao violão e o bandolim choroso de Davi ficam em franca evidência.

Já a faixa-título Nossa Parceria foi feita a toque de caixa, dentro do estúdio. Exercitando seu lado repentista, Moraes Moreira chegou com um esboço do texto, que ganhou uma levada groove. Cantou no improviso e a gravação foi para valer. “É um disco mais intimista, mais suave. Não é tão carregado, me lembra muito os discos primeiros do meu pai quando ele saiu dos Novos Baianos”, observa Davi. “Como é um disco de pai e filho, mostra isso no som, como se a gente estivesse tocando em casa.”

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