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Em livro de memórias do Joy Division, Peter Hook faz revisão da lenda

Exatamente nesta segunda-feira, 17, completam-se 35 anos que a banda mais significativa do pós-punk inglês acabou: menos de 24 horas antes de embarcar com o Joy Division para a primeira turnê americana, Ian Curtis sucumbiu ao monstro que secretamente o assombrava, realizou a profecia de suas letras e acabou com a própria vida. O caráter sombrio do Joy Division cresceu desde então, auxiliado pela produção fria porém genial das músicas de seus dois discos. Envolvido em tudo desde o início, Peter Hook decidiu contar a história que viu segurando o baixo em cima do palco: e o que se lê nas páginas de Joy Division: Unknown Pleasures, livro que a Seoman lança por aqui, é um retrato engraçado, desbocado e divertido sobre o Joy Division. Uma banda punk com caras muito jovens.

“A maioria dos livros sobre Joy Division foca na mitologia, na escuridão associada com o suicídio, Manchester e todas essas pessoas. A questão é que nunca foi assim para mim”, diz Hook, simpático, de uma loja da Apple em Manchester, por telefone. “Eu tive um tempo fantástico no Joy Division, nós éramos muito amigáveis, focados, iguais como músicos – o único problema com a banda era a doença de Ian, e nós não podíamos fazer nada sobre isso. Tive uma ideia muito diferente dos outros escritores. O que aconteceu foi que eu li um livro, que já foi demais, sobre o lado escuro da banda e precisei escrever para corrigir”, afirma o músico e escritor, que tinha um show de sua banda The Light marcado, em Macclesfield, cidade onde Ian Curtis nasceu e morreu.

A história todo mundo conhece: Hook e Bernard Sumner eram amigos de escola e queriam montar uma banda mesmo antes do mítico show dos Sex Pistols, em 4 de junho de 1976, o primeiro em Manchester (a lenda que corre – e que Hook crava em suas memórias – é que nesse show estavam, também, Morrissey, que formaria o Smiths, Mark E. Smith, do The Fall, Mick Hucknall, que faria o Simply Red, e o fotógrafo Kevin Cummins, que faria muitas das imagens famosas do Joy Division).

Hook e Sumner conheceram Ian Curtis no reduzido circuito de shows de Manchester da época e Stephen Morris, baterista, respondeu a um anúncio. Depois de uma série de shows pela Inglaterra entraram no estúdio para gravar o som que seria imortalizado por vários aspectos (os quais Hook enumera com detalhes no livro).

Ele lembra com afeto o amigo doente (Curtis foi diagnosticado com epilepsia em janeiro de 1979), diz que ele se tornaria um bom guitarrista e o chama de “camaleão”. “(Ele não era) nenhuma virgem inocente”, escreve, “ele era poético e romântico e sensível – claro que sim – mas ainda era um cara de uma banda e ele gostava de fazer o que os caras de bandas fazem. Que é dar uns amassos com as garotas e se divertir”.

Continua: “o que me irrita no endeusamento de Ian é que ele sugere uma separação completa entre Ian e o resto de nós, que na verdade não existia. (…) Ele amava aquele estilo de vida, e teria se divertido muito, muito mais, se não fosse por sua epilepsia. Ele era nosso amigo. Quando Terry descobriu aquele barro bizarro que alguém havia largado nos banheiros do Leigh Open Air Fetival, e chamou todo mundo para ver, porque era tão enorme (…), Ian não saiu correndo para enfiar a cabeça em um Dostoievski (…). Não, ele estava rindo tanto quanto nós e com tanto nojo quanto. Como qualquer um dos caras”.

Outras memórias remetem à turnê que a banda fez com os Buzzcocks, em 1979 – e aí a coisa vai de um encontro com William Burroughs (“vai à merda, garoto”, teria dito o americano a Ian Curtis) à ocasião singular em que Curtis urina num cinzeiro num quarto de hotel.

Mas é claro que Hook reconhece no amigo os problemas que se tornaram lendas: Curtis tinha um sério problema com a epilepsia, não conseguia equilibrar a vida com a banda com a vida em casa (ele era casado e tinha uma filha pequena) e ainda por cima se apaixonou por uma jornalista belga. Todos que orbitavam o Joy Division têm uma versão sobre os motivos de Curtis. Com uma humildade adquirida ao longo dos anos, Hook conta a sua. Quem disse que biografias não têm suspense?

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