No recente Festival de Cannes, Emmanuelle Bercot fez história ao assinar, como diretora, o filme de abertura, La Tête Haute, e ao receber, no encerramento, o prêmio de interpretação por Mon Roi, de Maiwenn. E foi modesta – “Com tantas grandes atrizes e estrelas para escolher”, agradeceu ao júri presidido pelos irmãos Coen, “vocês me deram essa honra. A mim, uma desconhecida”.
Na verdade, na França como para o cinéfilo brasileiro, Emmanuelle Bercot está longe de ser desconhecida. Em Cannes, Políssia, longa anterior da atriz e diretora Maïwenn, foi premiado anos atrás, e Emmanuelle não só está no elenco como contribuiu no roteiro. Em Berlim, no ano passado, ela concorreu com uma bela parceria com Catherine Deneuve, Ela Vai. De novo, Deneuve é a protagonista de De Cabeça Erguida, título que La Tête Haute recebeu no Brasil.
Emmanuelle Bercot é uma das convidadas da nova edição do Festival Varilux, que começa nesta quarta-feira, 10, em São Paulo e quinta, 11, no Rio, trazendo uma expressiva fatia da produção francesa contemporânea. Na verdade, são 12 convidados – entre atores, atrizes e diretores. A comitiva dá uma ideia do tamanho do festival, que cresceu bastante. Este ano, atinge 80 salas de 50 cidades, até 17 de junho. Entre os demais convidados estão Eric Toledano e Olivier Nakache, a dupla de Intocáveis, que mostra seu novo filme, Samba, com Omar Sy. Na sequência da Parada Gay, o festival promete agitar a libido das garotas e da plateia GLBTS com dois ícones masculinos. Tahar Rahim, o Profeta de Jacques Audiard, e Pio Marmaï. Esse, você provavelmente acha que não conhece, mas sabe, sim, quem é. Marmaï tem cerca de 20 filmes no currículo. Já trabalhou com estrelas como a Deneuve e Isabelle Huppert. Indicações para o César, o Oscar francês, não têm mais mistério para ele. E, se você procurar na internet, vai encontrar duas listas relacionadas. Jude Law ornamenta a lista dos 100 homens mais belos do mundo e Marmaï, a dos 30 mais sexys da França.
O bonitão da vez recebe a homenagem do Varilux, que programa uma retrospectiva com seis de seus filmes no CineSesc (em São Paulo) e no Instituto Moreira Salles (no Rio). São obras como Um Amor em Paris, de Marc Fitoussi; O Primeiro Dia do Resto de Nossas Vidas, de Remi Bezançon; e Um Evento Feliz, também de Bezançon. Marmaï não participou da seleção e teria escolhido algum outro (por motivos afetivos), mas gostou da escolha – e da homenagem. “Sempre quis conhecer o Brasil, e vir para ser homenageado supera qualquer expectativa que pudesse ter.” O ator está no Brasil desde ontem. Filho de artistas (pai designer e mãe figurinista de ópera), considera o trabalho de ator um luxo. “Quando se fala, deve se ter algo para dizer. Amo trabalhar com pessoas exigentes e que têm coração para contar histórias.”
O festival será aberto em São Paulo com Beijei Uma Garota, do qual ele está particularmente orgulhoso. Na trama, Marmaï acorda na cama de uma garota desconhecida, com quem supostamente passou a noite. Não seria nada mais, sendo ambos jovens, belos e saudáveis. Só que – mamãe, socorro! -, Marmaï faz um gay e o fato provoca uma crise no relacionamento com seu par. “É um filme que tem uma linguagem descontraída e que faz humor sem deixar de reconhecer a gravidade do tema. Ainda existe muito tabu em relação ao tema do casamento gay. Gostei de ter feito Beijei Uma Garota antes que a lei passasse na França. Desse jeito, não podemos ser acusados de oportunismo.”
Durante uma semana, o cinéfilo poderá desfrutar de um cardápio diferente da habitual ocupação do mercado por Hollywood. O Festival Varilux de 2015 vai apresentar 16 filmes. A expectativa é de atingir 110 mil espectadores, o que, concretizado, poderá representar um aumento de 10% em relação à edição do ano passado. De Cabeça Erguida, Samba e Beijei Uma Garota reúnem atrativos para chegar a ser destaques da programação, mas o Varilux promete muito mais.
A comédia Que Mal Fiz a Deus?, de Philippe de Chauveron, virou fenômeno de bilheteria na França no ano passado, com mais de 15 milhões de espectadores. Gemma Bovery – A Vida Imita a Arte, de Anne Fontaine, propõe uma variação contemporânea sobre o romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert, que já inspirou autores como Vincente Minnelli, Manoel de Oliveira e Claude Chabrol. Papa ou Maman, de Martin Bourboulon, é comédia politicamente incorreta sobre um divórcio à francesa – a luta de papai e mamãe é para não ficar com os filhos.
E ainda há um filme que faz parte do imaginário de muita gente. Nos anos 1960, Philippe de Broca filmou no Brasil com Jean-Paul Belmondo – O Homem do Rio. O próprio Steven Spielberg admite que foi um dos filmes que o fizeram querer ser diretor. Belmondo, você sabia?, foi uma das referências para Indiana Jones. Como comédia de aventuras é deliciosa. E tem a bela irmã de Catherine Deneuve, Françoise Dorleac, que morreu num acidente de carro, há quase 50 anos (em 1967). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.