Legenda: Estação Gopouva, os enfermos desembarcavam neste local para chegar no Sanatório Padre Bento. Sem data. Acervo: Arquivo Histórico de Guarulhos
Um outro olhar, da mesma gente que hoje reside, vive, trabalha e produz a segunda maior cidade paulista, Guarulhos. Um olhar abrangente, desde a formação geológica há milênios no planalto de colinas, baixadas e vales, onde um valioso minério se acumulava. A formação humana, iniciada cem anos antes dos colonos portugueses chegarem, por uma etnia indígena que fugia do litoral para esse mesmo planalto paulista, das tribos guerreiras que de lá os expulsavam e, cerca de 150 anos depois, interagia com o invasor português, que o aldeava e tentava educar por meio de uma ordem religiosa, mas também o escravizava para trabalhos rurais.
E nesse movimento de colonização toda a ocupação de uma colina e seu sopé e também as regiões vizinhas, para exploração do ouro e produção de alimentos. O ouro que decai e a autossuficiência produtiva que se instala, ao mesmo tempo em que essa produção alimentícia também produz excedentes, comercializados nos bairros da capital mais próximos a ela.
E no correr do tempo, a necessidade de materiais para a construção de habitações na cidade de São Paulo, produzidos onde existem rios e lagoas, o barro dos tijolos e objetos de cerâmica, nas olarias, e a grande hidrovia existente, o Rio Tietê correndo mansa e caudalosamente em direção a capital, passando a ter em sua paisagem as barcaças carregando tijolos aportando nos limites da agora Vila, o bairro da Ponte Grande.
A ferrovia que chega trazendo eficiência ao transporte das mercadorias e gêneros alimentícios para a capital. Estações se constroem enquanto a imigração europeia e japonesa desenvolve ainda mais a cidade que agora e cada vez mais, se industrializa.
Ao mesmo tempo em que a ferrovia aproxima Guarulhos de São Paulo, agora por outro lado, mais ao norte, onde já havia uma estrada de rodagem (Estrada da Conceição, agora avenida de mesmo nome, saindo de Santana), Guarulhos ainda é um arrabalde isolado por matas, rios, caminhos desertos, mas com a ferrovia que faz desse isolamento algo facilmente superável.
Talvez isso explique a decisão de ao início do século XX a região dos atuais bairros de Gopoúva e Tranquilidade ser utilizada para excluir da convivência da população dita "normal" da progressista capital paulista os doentes mentais, chamados também de – alienados.
Era o tempo em que a sociedade, acreditava os donos do poder político e econômico da época, deveria curar-se das enfermidades que passavam pelo lado mental, a loucura em variadas faces e pelo lado físico com as doenças cuja cura ainda não havia sido encontrada pela moderna medicina. Ambas eram objeto da exclusão deliberada de suas vítimas da sociedade, por políticas oficiais de saúde pública.
É historiador. Colaborador do Espaço AAPAH
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