O Sepultura passou por maus bocados em 30 anos de carreira. Durante este período, o grupo viu seu ex-líder e maior referência, Max Cavalera (vocal), abandonar o barco em 1997. Tudo porque os outros três integrantes, Igor, Andreas e Paulo, queriam que a mulher dele, Gloria, deixasse de ser a empresária do conjunto. Derrick Green, nascido nos Estados Unidos, assumiu os vocais e a banda, então, pôde finalmente se reinventar. Foi libertador.
Os brasileiros cravaram o nome do Brasil na história do heavy metal. Fizeram mais de 1.500 apresentações ao redor do mundo e tocaram em, pelo menos, 75 países diferentes. “A banda poderia ter acabado com a saída do Max e nós decidimos dar continuidade a ela. A entrada do Derrick mudou tudo. Foi um momento difícil, mas muito importante da nossa história. Serviu para enriquecer e fortalecer os laços”, diz o guitarrista Andreas Kisser em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo.
Tudo parecia bem até a saída de Igor Cavalera em 2006. A ausência do baterista foi menos conturbada do que a do irmão. No lugar dele entrou Eloy Casagrande (ex-Gloria), de apenas 24 anos. O jovem, no entanto, deu um gás diferente à banda. Com a mescla de experiência e juventude, o Sepultura se fortaleceu ainda mais. “O Eloy era a peça que faltava. Um cara jovem, tecnicamente muito bom e com uma bagagem incrível”, complementa Andreas.
Barracos e discussões à parte, fato é que a banda brasileira mais conhecida no exterior completa 30 anos em 2015. Para celebrar a data, o grupo formado por Derrick Green (vocal), Andreas Kisser (guitarra), Paulo Jr. (baixo) e Eloy Casagrande (bateria) faz um show de comemoração neste sábado, 20, em São Paulo (Audio SP). Eles também se apresentam nesta sexta, 19, no Circo Voador, no Rio de Janeiro. No repertório, clássicos dos discos mais importantes do quarteto: de Roots (1996), passando pelo emblemático Chaos A.D. (1993) e o imponente Refuse/Resist (1994). O set da apresentação, portanto, deve mesclar todas as fases do grupo. “A gente vai colocando as ideias e as músicas que nós estamos a fim de tocar. Montamos um set não político, de todas as fases da banda. Vamos tocar de tudo, do primeiro álbum, Bestial Devastation (1985), ao último disco The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart (2013). O set vai ser um apanhado geral da nossa carreira e, obviamente, a apresentação será maior, já que não teremos um show de abertura. Vamos fazer o possível para apresentar a história completa do Sepultura”, afirma Andrea.
Além do show na capital paulista, o Sepultura vai ganhar um documentário sobre os 30 anos da banda. Dirigido por Otavio Juliano, o longa ainda está em fase de produção. O diretor pesquisou a história do grupo e acompanhou de perto a gravação dos últimos dois trabalhos do Sepultura, Kairós (2011) e The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart (2013). A apresentação deste sábado, 20, na zona oeste de São Paulo, também fará parte do filme.
Segundo Andreas Kisser, Juliano ainda está tentando falar com os irmãos Cavalera, que fundaram o Sepultura, em Belo Horizonte, mas o objetivo central do documentário é mostrar a fase atual do Sepultura. “Na verdade, nós não sabemos muita coisa sobre o projeto. Quem está fazendo isso é o Otavio Juliano. Ele está nisso há pelo menos 5 anos. Há muitas horas de filmagem e entrevistas, mas ainda falta coisa. Vamos filmar o show em São Paulo. Não tem uma data para ser lançado. Está caminhando. Ele vai começar a editar e montar o filme. Já tem uma pré-edição. A gente está fazendo o máximo possível para ele contar a história da banda. O objetivo deste documentário é mostrar o presente e não ficar lavando roupa suja e trazendo discussões antigas à tona. Um mesmo fato poderá ser visto sob pontos de vistas diferentes. Queremos mostrar o momento atual do Sepultura e porque ainda estamos na ativa. Hoje, todavia, não vivemos na sombra do Cavalera. Claro que não vai faltar informação sobre a trajetória da banda e as diferentes fases dela”, complementa.
Retorno improvável
Com a proximidade da data comemorativa, muito se falou sobre uma possível volta dos irmãos Cavalera para este show emblemático na capital paulista. Andreas, no entanto, ressalta que, embora muito importantes para a trajetória da banda, tanto Igor quanto Max, não condizem com a proposta da apresentação deste sábado.
“Na verdade a gente quer celebrar este momento tão importante para o Sepultura. Os dois viraram as costas para nós e foram embora numa determinada época porque quiseram. Ficamos com o bom, que é o nome Sepultura, mas, em contrapartida, tivemos de procurar um novo empresário e reconstruir as coisas. Tudo aquilo que levamos 10 anos para edificar, o Max levou com ele. Tivemos de começar do zero, novamente. Por isso, não fazia sentido trazer nenhum convidado. No momento mais crítico da carreira, quem correu atrás das coisas fomos nós. Não ficamos chorando”, acrescenta Andreas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.