Com o início da exposição François Truffaut – Um Cineasta Apaixonado no Museu da Imagem e do Som, volta um tema que, na verdade, nunca sai de cena – a nouvelle vague. O movimento de renovação do cinema francês na segunda metade dos anos 1950 exerceu profunda influência sobre jovens diretores de todo o mundo. Filmes de autor, desdramatização do roteiro, liberdade de filmagem. A nova onda tirou o cinema do estúdio, tornou-o mais livre. Até as equipes diminuíram. Ficou mais fácil filmar.
A Versátil está lançando duas caixas de DVDs vinculadas à nouvelle vague. Uma privilegia o cinema de Truffaut, com filmes que integram a exposição do MIS – A Noite Americana, De Repente num Domingo e Atirem no Pianista. A outra traz três discos com seis filmes de autores que se destacaram na nova onda. Destaque para o filme escultura de Alain Resnais, com roteiro de Alain Robbe-Grillet, O Ano Passado em Marienbad. Delphine Seyrig é misteriosa como essa mulher envolta em plumas que um estranho, Giorgio Albertazzi, tenta convencer de que se conheceram (e amaram) no ano anterior. O longa de Truffaut foi chamado de misógino há 50 anos (Um Só Pecado é de 1964) com essa outra mulher armada de fuzil que caça o marido adúltero. O de Godard tem as cenas dos jovens no Louvre – toda liberdade de tom e de estilo da nouvelle vague está em Banda à Parte.
Jacques Demy fez de Jeanne Moreau uma loira platinada em A Baía dos Anjos, de 1963. O filme é sobre uma mulher obcecada por jogo. A crítica Pauline Kael dizia que Demy se inspirou nos melodramas sociais (e sombrios) da Warner nos anos 1930/40 e que Moreau recria Bette Davis como essa jogadora compulsiva para quem a vida, como o jogo, é feita de sorte e fatalidade. Paris nos Pertence demorou para ser concluído – iniciado em 1958, só ficou pronto em 1962. Percebem-se os hiatos do tempo na qualidade irregular da película empregada, mas Rivette está inteiro no filme, com seu amor ao teatro, as armadilhas para o espectador e o complô da sociedade secreta. Com certeza haverá quem conteste, mas Rivette ficou melhor. E, tirando, talvez, Godard, e algum Resnais, o melhor filme francês dos autores de sua geração nos anos 2000 é dele – Ne Touchez pas la Hache. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.