Variedades

Show no Rio lembra os 80 anos do compositor Candeia, morto em 1978

Aos 6 anos, ele já convivia com artistas do tamanho de Paulo da Portela, João da Gente e Zé da Zilda, que faziam rodas de samba e choro na casa de seu pai, Antonio Candeia. Aos 18, logo ao chegar à Portela, emplacou o samba “Seis Datas Magnas”, em parceria com Altair Marinho, e foi campeão do carnaval de 1953.

Em 1965, já com fama de policial valente e estourado, furou o pneu de um caminhão a tiros em uma briga de trânsito. O motorista reagiu, acertou uma bala em sua coluna e o deixou paraplégico, conforme citação do “Dicionário Cravo Albin” da Música Popular Brasileira.

Acabava ali a carreira policial de Antonio Candeia Filho e se consolidava a de sambista e defensor da causa negra até sua morte prematura, aos 43 anos. Logo depois, foi homenageado por Wilson Moreira e Nei Lopes com o emocionante samba “Silêncio de Um Bamba”.

Contemporâneo de Candeia na Portela, o compositor Monarco participa de um show em homenagem aos 80 anos de nascimento do sambista, ao lado de Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Teresa Cristina e Cristina Buarque, nesta quinta-feira, 06, à noite no Circo Voador, no Rio, com lotação esgotada. “Nós chegamos lá juntos”, lembra o líder da Velha Guarda da Portela, que só fez um samba em parceria com ele, “Portela É Uma Família Reunida”.

Monarco diz que Candeia mudou muito depois do acidente. Inclusive na forma de compor. “Antes o samba dele era mais corrido. Depois que passou a andar em cadeira de rodas, ficou mais dolente, um lamento”, afirma. Para Monarco, o grande exemplo é a música que vai fechar o show desta quinta, “Preciso me Encontrar” (“Deixe-me ir / preciso andar / vou por aí a procurar / rir pra não chorar”).

Outro clássico que, para Monarco, reflete esse sentimento é “Pintura Sem Arte”: “Samba é lamento, é sofrimento/é cura dos meus ais”. Martinho da Vila considera que a carreira de Candeia deslanchou depois de ele ficar paraplégico. “A grande produção dele foi pós-acidente, influenciada por pessoas de outras áreas que começaram a frequentar sua casa”, afirma.

“Eu levei para lá João Bosco, Clara Nunes e muitos outros. Esses encontros abriram o horizonte dele”, avalia Martinho.

O compositor da Vila se aproximou de Candeia quando ele não podia mais andar. “Uns amigos me chamaram para ir na casa dele. Estavam preocupados porque estava perto do carnaval e ele não ia desfilar. Ficamos amigos.” E viraram parceiros em Eterna Paz. “Ele me deu a melodia e pediu uma letra romântica. Só completei depois que ele morreu”, lembra.

A parceria estendeu-se para o grande ato de afirmação da tradição das escolas de samba e da raça negra, o Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba Quilombo. Em 1975, irritado com o rumo das escolas, já àquela época tomadas por gente de fora do mundo do samba, Candeia abandonou a Portela e criou uma escola com características especiais. Martinho, da Vila Isabel, o acompanhou. Era uma escola especial.

Não disputava o campeonato. Desfilava pelas ruas da cidade, respeitando a forma antiga. Tinha nas suas alas gente da estirpe de Nei Lopes, Wilson Moreira, Monarco, Mestre Darcy do Jongo. “A ideia era que a escola não fosse atrelada às novas normas e que desfilasse mais livremente”, conta Martinho.

Monarco recorda que, naquela época, “chegou um pessoal de fora (à Portela) e quem fez história na escola passou a ser tratado como um joão ninguém”. Por isso, Candeia e seus companheiros foram para a aventura. E o lugar era tão fortemente marcado como de resistência negra que, lembra Monarco, Candeia dizia que “branco pode (frequentar a escola), desde que seja um branco bem-intencionado”.

No carnaval de 2016, o Quilombo talvez volte a desfilar pelas ruas do Rio. Selma Candeia, filha do compositor, tenta reviver a escola em meio às muitas homenagens que estão sendo feitas e não cabem nesse espaço. Pois, como diz Monarco, parodiando o samba famoso: “Se eu for falar de Candeia / hoje não vou terminar”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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