A escritora carioca Lidia V. Santos já vivia 12 anos nos Estados Unidos quando se mudou, em 2012, de Connecticut para Nova York. Durante todo aquele período, ela ensinou na Universidade de Yale. Mas foi só chegar à nova cidade que Lidia sofreu um incidente que, de uma certa, mudou sua vida: uma torção de tornozelo em plena Park Avenue, em Manhattan, deixou-a com os movimentos limitados. A solução foi seguir o conselho de sua médica e utilizar uma patinete no auxílio da locomoção. Lídia descobriu assim uma nova cidade.
A experiência, ela relata em Diários da Patinete: Sem um Pé em Nova Iorque (Editora Texto Território), livro com belas ilustrações de Bruno Liberati e que será lançado nesta quinta, 17, à noite na simpática livraria Blooks, no shopping Frei Caneca. Por sua riqueza de conteúdo, o livro pode tanto ser classificado como autoficção como autoajuda. “Eu busco mostrar como os nova-iorquinos são irônicos consigo mesmos e também ofereço um guia fora do padrão de pontos pouco conhecidos para os turistas brasileiros”, conta ela.
Ela mostra, por exemplo, a pista para caminhadas que surgiu à margem do rio Hudson, depois da revitalização da área da High Line, linha elevada de trens que carregavam carga até os navios ancorados no porto. “Trata-se, na verdade, de um falso diário, pois é direcionado a um tipo de leitor. Um tipo de prosa que inventei para escrever como na verdade falo”, conta ela que, embora se debruce há vários anos em um romance, sempre esteve mais habituada à escrita acadêmica.
A patinete a que se refere o título é, na verdade, um “knee walker”, ou “andador de joelho”, e tem sido indicado por alguns fisioterapeutas como alternativa às tradicionais muletas. Em sua narrativa, Lidia a apelidou de Suzete, que se torna sua companheira de aventuras, desde a frustrada ida a um restaurante búlgaro até ser obrigada a entrar em determinados estabelecimentos pela porta da cozinha.
Em seu período com a patinete, Lidia registra também momentos importantes, como o encontro com a atriz Judith Malina (1926-2015), cofundadora do Living Theatre, grupo que veio ao Brasil em 1970 e cujos integrantes foram presos na ditadura militar, acusados de porte de maconha – na verdade, as autoridades suspeitavam de uma performance com caráter de protesto, que seria apresentada em Ouro Preto.
A detenção repercutiu no mundo inteiro, provocando reação de personalidades como John Lennon, Jean-Paul Sartre e Susan Sontag. “Ela ficou emocionada ao descobrir que sou brasileira. Disse que nosso País foi muito importante em sua carreira”, conta. “Pena que Judith não conseguiu ver meu livro ficar pronto.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.