Com a vitória de Big Jato, o diretor pernambucano Cláudio Assis torna-se tricampeão do Festival de Brasília. Ele já havia vencido em 2002 com Amarelo Manga e, em 2006, com Baixio das Bestas. É o maior pé quente dos festivais. Seu outro longa, Febre do Rato, venceu em 2011 o Festival de Paulínia.
Tal cartaz não o blindou contra vaias na cerimônia de premiação, realizada na terça-feira, 22. Assis já havia sido apupado por parte da plateia do Cine Brasília na apresentação do filme. Voltou a ser hostilizado ao ganhar o festival. O motivo foi um famoso debate do filme de Anna Muylaert, Que Horas Ela Volta?, perturbado tanto por Cláudio quanto por outro diretor, Lírio Ferreira, com intervenções despropositadas e de cunho machista. O fato, ocorrido no Recife, respingou em Brasília e enfureceu as feministas locais. No palco, Cláudio bateu boca com essa parte do público. “Aceito vaias, mas elas têm de ser inteligentes e não fascistas”, gritou ele, um tanto confuso. No fim, Matheus Nachtergaele, ator do filme e premiado pelo festival, salvou a noite mais uma vez, acalmando os ânimos.
Quando essa pequena tempestade passou, Big Jato pôde ser aclamado pelo público. Transcriação do livro ficcional-memorialístico de Xico Sá, é, de fato, um belo e poético filme. Descrevendo o romance de formação de um poeta em pleno sertão, faturou, além do Candango de melhor filme, os de trilha sonora (DJ Dolores), roteiro (Hilton Lacerda), atriz (Marcélia Cartaxo) e ator (Matheus Nachtergaele).
Também muito premiado foi o drama paranaense Para Minha Amada Morta, de Aly Muritiba, que levou os prêmios de melhor diretor, ator coadjuvante (Lourinelson Vladimir), atriz coadjuvante (Giuly Biancato), fotografia, direção de arte e montagem. Trata-se da tensa história de um viúvo (Fernando Alves Pinto) que descobre haver sido traído pela mulher e sai em busca do amante. Original, denso, minimalista e muito bem filmado, marca a estreia de Aly na direção de longas ficcionais. O filme foi também reconhecido pela crítica, em júri organizado pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine).
Fome, de Cristiano Burlan, o trabalho mais experimental da mostra, faturou um Prêmio Especial do Júri pelo trabalho de ator de Jean-Claude Bernardet, além de levar o Candango de melhor som. O melhor curta foi o originalíssimo trabalho mineiro Quintal, de André Novais.
Com bons filmes, bons debates e seminários interessantes, Brasília fez um festival à altura de suas tradições. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.