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Exposição na Suíça apresenta resumo da carreira de Kossoy

Meio século de fotografia comemorado na Suíça confirma o historiador, ensaísta e fotógrafo Boris Kossoy, aos 74 anos, como um renovador da imagem finalmente reconhecido fora do Brasil. Pioneiro do realismo mágico na fotografia, Kossoy, raro seguidor brasileiro do movimento literário que projetou a América Latina nos anos 1960, abriu no último dia 10, na Brasilea Foundation, de Basel, uma exposição com 90 fotografias, Imago – Sobre o Aparente e o Oculto. Como indica o título, a mostra reúne imagens do mundo real que sugerem relações misteriosas, a exemplo da escola literária conhecida como realismo fantástico (ou mágico) – García Marquez, Julio Cortázar e Murilo Rubião – ao buscar uma correspondência entre o sobrenatural e a realidade.

Curador da própria exposição, que rejeita a ordem cronológica para relacionar imagens “surrealistas” dos anos 1970 com as atuais, Boris Kossoy comemora os 50 anos de sua primeira foto duplamente. Seu livro sobre o pioneiro da fotografia franco-brasileiro Hercule Florence (1804-1879) acaba de ser publicado em alemão e brevemente deve ganhar edição americana, o que pode coroar os esforços de Kossoy para provar ao mundo que Florence foi o real inventor da fotografia.

Voltando à exposição suíça, Kossoy justifica a ausência da ordem cronológica da mostra como uma tentativa de compor um roteiro em que as imagens de ontem convivam sem trauma com as de hoje. E esse roteiro começa com a abertura de seu estúdio Ampliart, em 1965, época turbulenta em que arquitetos como ele sobreviviam fotografando celebridades para capas de revistas ou pôsteres, muito populares na época. Fotos publicitárias também ajudavam a manter o estúdio, no centro de São Paulo.

Foi graças a essa experiência profissional que a fotografia entrou definitivamente em sua vida. Em 1971, Kossoy publicou o livro Uma Viagem pelo Fantástico, que mudou seu rumo e foi recebido com entusiasmo pelo criador e diretor do Masp, Pietro Maria Bardi. O professor italiano chegou a comparar sua primeira série “fantástica” aos traços de Blake e Rossetti. Embora não fosse místico como Blake, Kossoy tinha, de fato, a ambição do pré-rafaelita Rossetti ao transformar a realidade ordinária num cenário mágico. O livro trazia as imagens que até hoje identificam a “marca” de Kossoy: o arlequim na curva de uma estrada sob neblina, a noiva abandonada numa desoladora estação de trem e o maestro regendo túmulos em Caieiras, entre outras.

“O arlequim era um assistente meu no estúdio, que me acompanhou às 5 da manhã de um dia chuvoso de 1970, assustando motoristas que passavam pela estrada”, lembra Kossoy. A simples introdução de uma figura fantasiada, o arlequim estático, em meio à bruma provocou um efeito desestabilizador na tradição documental, apontando um novo caminho para a fotografia: a possibilidade de uma narrativa poética ligada aos sonhos, e bem próxima da literatura. “Naquela época, minhas referências eram todas literárias ou cinematográficas”, revela Kossoy, citando entre elas Edgar Allan Poe e os filmes expressionistas alemães.

Em 1971, logo após o lançamento de sua série “fantástica”, Kossoy foi para Nova York e seguiu por um caminho mais realista, documental, fotografando bêbados e desocupados do Bowery, manifestações políticas contra a guerra do Vietnã e cenas urbanas de Nova York, então ponto de convergência de autoexilados brasileiros. Nos anos 1980 e 1990, seus exercícios formais nas grandes cidades europeias evidenciam sua relação íntima com o cinema. Uma série inteira (Hommage) evoca clássicos de Hitchcock (Janela Indiscreta) e Kubrick (O Iluminado).

A presença de manequins com expressão humana (que acompanham o fotógrafo desde os anos 1970) continua em séries mais recentes, reforçando sua ligação com a pintura metafísica e o surrealismo. E como o teórico e pesquisador avalia essa sua experiência como fotógrafo, dedicado à “desmontar” o signo fotográfico e impregnar a realidade de ficção? “A teoria, no caso, serve para compreender melhor o que faço em fotografia”, responde Kossoy que, entre outras atividades, foi colaborador do Suplemento Literário do jornal O Estado de S.Paulo.

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