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Primeiro livro sobre Elizabeth Jobim registra carreira da pintora

No ano em que Elizabeth Jobim nasceu, 1957, seu pai, o maestro e compositor Tom Jobim (1927-1994), então com 30 anos, lançou sua versão musical de O Pequeno Príncipe. Parecia mesmo uma homenagem à filha recém-nascida. A exemplo do príncipe de Saint-Exupéry, a pequena princesa faria, muitos anos mais tarde, desenhos que em nada se pareciam com os modelos originais. Se o pequeno príncipe, aos 6 anos, desenhou uma jiboia que os adultos imaginavam ser um chapéu, Elizabeth, de tanto ver uma réplica do bronze O Rapto das Sabinas (1583) na casa da mãe, ficou obcecada pela escultura de Giambologna (1529-1608). E dela fez, nos anos 1980, versões em desenho que só com algum esforço lembram aqueles corpos retorcidos e entrelaçados do escultor maneirista. Contudo, foram essas versões que acabaram definindo seu trabalho artístico futuro: um híbrido entre desenho, pintura e objeto tridimensional.

Elizabeth Jobim completa agora 30 anos de carreira – sua primeira exposição individual foi em 1985 – com o lançamento do primeiro livro dedicado a uma obra já extensa e reconhecida aqui e lá fora. Remanescente da chamada Geração 80 – ela participou da histórica exposição Como Vai Você, Geração 80?, no Parque Laje (em 1984) -, a pintora afastou-se de sua origem expressionista, gestual, e hoje assina um trabalho de linhagem construtivista, que dialoga com a obra dos neoconcretos Willys de Castro (1926-1988) e Aluísio Carvão (1920-2001), seu mestre.

Atualmente em cartaz na Trio Bienal (até novembro, no CCBB do Rio), ao lado de figuras históricas como Joseph Kosuth e Marina Abramovic, Elizabeth Jobim ganha no livro, publicado pela editora Cosac Naify, um ensaio crítico de Paulo Venancio Filho, seguido por uma entrevista concedida à curadora Taisa Palhares. É um livro esclarecedor sobre seu processo de trabalho e a evolução de uma obra que se encontra em coleções importantes.

Elizabeth demorou para chegar à pintura. E, quando chegou, fez uma pintura “avessa à tela e próxima do papel”, como assinala Paulo Venancio. Nos anos 1980, era impossível escapar à influência dos neoexpressionistas alemães.
Gestos expansivos caracterizavam os germânicos. Dois nomes foram importantes para a formação da pintora brasileira, Baselitz e Penck, especialmente o último – com sua “sintaxe primitiva”, como classifica Elizabeth. Já nos anos 1990, o gesto espontâneo foi substituído por uma pintura mais calculada, que deriva do desenho de observação, em que a figura, como atesta Venancio, “é reabsorvida pelo processo que a expulsou”.

Em outras palavras, as pedras do calçamento do Rio, que serviram de modelo para seus primeiros desenhos, são ampliadas na tela e viram abstrações. A escala cresce e logo as dimensões do papel ficam pequenas para uma pintura que começa a dialogar com a arquitetura. Nos anos 1990, tendo como referências Philip Guston, Dubuffet e Iberê Camargo, ela pinta o próprio material artístico (tubos de tinta retorcidos), chamando a atenção do crítico Ronaldo Brito, que vê em sua pintura uma relação de construção e desconstrução do modelo (como nos esboços de Giambologna). A relação dialética entre desenho (projeto racional) e pintura (sensual) se evidencia. Se Elizabeth fazia trabalhos pictóricos sobre papel, hoje ela segue o caminho de Willys de Castro e questiona o próprio suporte sem desrespeitar a tradição. Ao contrário. Faz, como o argentino Paternosto, com que o olho do espectador se fixe na pintura de maneira oblíqua, dirigindo-se para a lateral da tela.

“Achei curioso aparecer essa conexão entre diferentes períodos no livro”, reflete Elizabeth. “Vejo a arte como um diálogo com o que outros artistas fizeram e que é atualizada constantemente”, diz, referindo-se ao parentesco entre sua pintura atual, que estabelece uma relação espacial com o ambiente, e obras do neoconcretismo hoje históricas, como os objetos ativos de Willys de Castro e os penetráveis de Oiticica. Com seus contemporâneos, ela também conversa. Elizabeth cita o norte-americano Peter Halley (que atualiza Mondrian), o irlandês Sean Scully (que reinterpreta Morandi) e a americana Anne Truitt (1921-2004). A última, com certeza, é sua maior interlocutora. Ambas são de um minimalismo monástico na forma. Mas coloristas por vocação.

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