Variedades

Eduardo Lacerda cria centro cultural na Vila Madalena, com livraria, bar e café

Os últimos cinco anos foram de batalha para o editor Eduardo Lacerda. A diabete apareceu com tudo e ele engordou muito e emagreceu muito. Terminou um longo namoro e, por consequência, a sociedade. Suou, mas transformou a Patuá, com seu modelo de negócio básico (a tiragem é baixa e ele não vende em livraria), uma estrutura quase inexistente (Lacerda é o único funcionário e trabalha em casa), uma média de 10 lançamentos por mês e obras sempre entre os finalistas de todos os prêmios literários nacionais, numa referência no mercado editorial brasileiro. E se hoje ela não dá lucro, prejuízo ela também não dá mais – o que é grande especialmente para uma editora que publica poesia e livros de (quase sempre) autores estreantes.

Mesmo com essas conquistas, ainda faltava alguma coisa na vida do poeta – porque se olharmos para trás, ser professor – e por isso ele foi estudar Letras – ou editor nunca foi, de verdade, o sonho de Eduardo Lacerda. Ele queria, mesmo, ser dono de bar. Simples assim.

E nesta quinta, 26, o projeto suspenso por pelo menos 15 anos vai sair do papel quando ele assinar o contrato de aluguel e levar as chaves do Patuscada Livraria, Bar e Café.

A casa já é velha conhecida no meio literário. Era ali no número 37 da rua Luis Murat, atrás do cemitério São Paulo, que funcionava a editora Intermeios e, desde 2013, num dos cômodos da casa, uma pequena livraria só com obras de editoras independentes. É neste mesmo espaço que Eduardo pretende instalar as prateleiras da loja. Como forma de estimular a produção, ele vai comprar, e não consignar, como de praxe, o acervo – e vender os livros sem margem de lucro.

Logo na entrada da casa há um cômodo independente, que deve abrigar um albergue literário, com cama para até três escritores que estiverem de (breve) passagem por São Paulo. Já dentro do imóvel, passando a livraria, será instalado um pequeno auditório para cursos e, descendo, estará o grande salão, onde serão realizados os eventos. Já havia um balcão de bar lá, e Eduardo comprou os móveis e os eletrodomésticos do Hussardos, centro cultural que o inspirou e foi fechado em maio. No porão, ficará o estoque e o escritório da editora e ainda um espaço de leitura.

A decoração ainda está sendo definida, mas uma das ideias é ter porta-copos em que o cliente poderá escrever os próprios poemas. Versos também serão lidos nas mesas e nas paredes – menos em uma, em que será pintado o nome de todos os que estão ajudando no financiamento coletivo. Lançada no dia 1.º, a campanha já arrecadou R$ 23 mil dos R$ 27 mil pedidos para ajudar na reforma, na compra do acervo e do mobiliário, etc. E ela só termina em 15 de janeiro, quando o Patuscada deve ser oficialmente inaugurado.

Até lá, porque o aluguel é caro e começa a correr, o editor fará um soft opening com seus próximos lançamentos. Outras editoras estão convidadas a fazer o mesmo. O lucro do Patuscada será apenas com a venda de bebida, e, pelas contas de Lacerda, 10 eventos por mês pagam as despesas da casa que só vai funcionar em dias em que houver programação. Como não poderá, e não quer, fazer comida, ele está pensando em chamar Food Trucks para estacionarem por ali.

“Editoras independentes costumam fazer seus lançamentos em bar para vender direto (livrarias ficam com uma fatia do valor). Mas os autores pedem que os lançamentos sejam em livrarias. Vamos juntar isso tudo”, diz o poeta, editor, e, em breve, vendedor, caixa e garçom. “Não tenho experiência nenhuma de administrar um espaço assim, mas eu também não tinha quando abri a editora. Fui fazendo, aprendendo e batendo a cabeça. No fim, deu certo”, diz. Ele entendeu que tudo tem seu tempo e que quanto mais enxuto for o negócio, melhor. Por isso, dá um passo de cada vez. Se um dia perceber que a livraria precisa funcionar todos os dias, ele repensa o projeto. Por ora, só quer começar logo a empreitada. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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