Nunes
De um lado, uma visita nos arredores de um vulcão islandês. De outro, a espera pelo metrô em uma estação de Tóquio. Ainda outro, o mar azul da capital do Ceará. A longa trajetória do Grupo Corpo não foi trilhada apenas nos palcos – boa parte da caminhada tem registro em fotos e vídeos de bastidores.
Um total de 1.024 imagens desses momentos poderá ser visto na Ocupação Grupo Corpo, com abertura neste sábado, 5, no Itaú Cultural. “São fotos amadoras feitas por bailarinos que estiveram e ainda estão na companhia”, explica o fundador Paulo Pederneiras. “Muitas feitas com a câmera do celular”, completa.
Segundo o mineiro, a intenção é revelar o cotidiano descontraído da companhia. “Queremos mostrar cenas que retratam o lado afetivo e fraterno, evocando o ambiente amigável e relaxado de quando estávamos fora dos palcos.”
Em outra parte da exposição, porém, esse clima descontraído inexiste. Estão ali vídeos profissionais que registram alguns dos mais de 38 espetáculos que preenchem 18 telas. “É o resultado artístico da nossa pesquisa e esforço. Fruto de uma busca por excelência nos movimentos”, conta. A difícil seleção desse material redundou em trechos das montagens mais representativas, entre elas Bach (1996), Parabelo (1997), O Corpo (2000), Onqotô (2005) e Suíte Branca (2015). “Escolhemos coreografias que definem, de um modo geral, o estilo e o modo de fazer das nossas criações.”
O projeto Ocupação foi originalmente criado para fomentar diálogo com artistas contemporâneos e já homenageou os cartunistas Laerte e Angeli, os poetas Paulo Leminski e Hilda Hilst, e diretores de teatro como Zé Celso e João das Neves. O Corpo é a segunda companhia que ganha residência – antes dela, foi a vez do também mineiro Grupo Giramundo, que expôs seu teatro de bonecos.
Ao longo das quatro décadas, Pederneiras já teve espetáculos com trilhas compostas por Caetano Velo (Onqotô), João Bosco (Benguelê), Lenine (Breu), Tom Zé (Parabelo) e apresentados em mais de 400 cidades. Esse número está presente na exposição na forma de uma longa lista com os nomes das cidades em ordem alfabética. “Existem lugares que é fácil reconhecer, como Tóquio, mas, logo ao lado, surge Timóteo (MG). É uma brincadeira de unir e misturar toda a nossa história”, explica.
Na exposição, há ainda um espaço interativo. Em um vídeo, a ensaiadora do grupo Ana Paula Cançado mostra uma sequência de movimentos para que o público possa repetir. “É como uma audição: ela executa um passo simples e, aos poucos, vai um inserindo novas ações.” Por fim, o Corpo encerra 2015 com apresentações de Parabelo e Onqotô no auditório do Ibirapuera, entre 17 e 20, como parte da programação. Para Pederneiras, uma mesma missão o acompanhará em 2016. “Nossa mentalidade foi sempre a de tentar coisas novas, conquistar rigor e o alcance de altos níveis. E, claro, nunca se conformar.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.